Paulo Guedes conseguiu novamente: o PIB recua
As promessas vãs do governo Bolsonaro não enganam mais ninguém. Depois de destruir o mercado de trabalho, aumentar a desigualdade e reduzir investimentos, a agenda neoliberal produziu um recuo da economia de 0,1% no segundo trimestre. “Mas no ano que vem, tudo vai ser diferente”, insiste o Chicago Boy
A política econômica de Paulo Guedes, adotada pelo governo de Jair Bolsonaro, surpreendeu o mercado na quarta-feira, 1º de setembro. De onde não se esperava nada, o governo conseguiu um novo feito: a queda de 0,1% do PIB no segundo trimestre. Apesar das promessas vazias do ministro da Economia, que briga agora com banqueiros e parte do establishment empresarial, o fato é que a atividade econômica caiu. A expectativa do mercado era de um avanço tímido de 0,2%, mas o resultado ficou abaixo.
O governo tentou dourar a pílula e, mais uma vez, as promessas de Guedes de que a economia está melhorando são como aquela canção do Roberto Carlos — “daqui para frente, tudo vai ser diferente”. O secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida, disse que, com a reabertura das escolas e o avanço da vacinação contra a Covid, o setor de serviços e os investimentos privados liderarão a retomada do crescimento econômico.
“Mais importante do que o número é a qualidade do crescimento”, disse. Em entrevista ao jornal Valor Econômico, o secretário teve o desplante de dizer que é preciso cuidado para analisar, por exemplo, a queda de 3,6% na Formação Bruta de Capital Fixo no segundo trimestre. “Quando se olha o acumulado, [o nível do investimento] continua alto”, disse, do alto do seu lero-lero.
Os dados oficiais são duros: a formação bruta de capital fixo, que mede o quanto as empresas aumentaram seus bens de capital — aqueles bens que servem para produzir outros bens (máquinas, equipamentos e material de construção) caiu 18% entre março e abril. E, segundo Sachsida, o resultado do PIB no — até aqui — pior trimestre da pandemia reforça a necessidade de se insistir na consolidação fiscal e nas reformas pró-mercado. Acredite, se quiser.
O fato é que a economia brasileira continua estagnada, presa pela equivocada política econômica adotada no país após a queda de Dilma Rousseff, com o Golpe de 2016. O PIB está 3,2% abaixo do ponto mais alto da atividade econômica na série histórica, alcançado no primeiro trimestre de 2014. A depender de Guedes e Bolsonaro, o futuro é incerto e as condições de recuperação da economia estão mais distantes. Em 2020, a economia caiu 4,1%. Guedes promete que o PIB este ano vai crescer 5%. “A economia voltou em V e país está crescendo de novo“, balbuciou na quarta-feira. O ministro parece que não quer enxergar a realidade. Vive às cegas.
A agenda econômica do governo mostra seu desserviço à recuperação do país. Segundo o IBGE, a agropecuária, a indústria e os investimentos foram as principais influências negativas para o desempenho da economia no segundo trimestre de 2021.
Segundo o IBGE, na indústria, há influência da falta de componentes e do custo dos insumos, mas também já aparece o impacto da crise hídrica, que afeta o resultado da atividade de eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (-0,9%), enquanto na agropecuária a maior influência veio do café, embora a seca também afete o resultado.
Além do malogro econômico, o desemprego permanece em níveis recordes. Na terça-feira, 31, o IBGE divulgou os números do mercado de trabalho. O volume de trabalhadores fora do mercado no país é de 14,4 milhões, assombrosamente elevado, já que nos nos primeiros três meses do ano chegou a 14,8 milhões.
O aparente recuo no desemprego — de 14,7% para 14,1% — mostra que o governo mantém o curso da economia rumo ao abismo, já que as condições de trabalho tendem a piorar. No segundo trimestre, os subocupados chegaram a 7,5 milhões no país, aumento de 7,3% (mais 511 mil) frente ao início deste ano. Com a nova reforma trabalhista, direitos como 13º salário, férias e FGTS deixarão de existir.
Para piorar, o rendimento médio real, habitualmente recebido pelos trabalhadores empregados, recuou para R$ 2.515 no segundo trimestre. A queda foi de 3% em relação ao primeiro trimestre de 2021 (R$ 2.594) e de 6,6% frente ao período de abril a junho de 2020 (R$ 2.693). Os dados foram deflacionados pelo IPCA. Ou seja, quando não perdem o emprego, os trabalhadores estão ganhando menos.
“O número de desempregados, mesmo com a queda, ainda é muito volumoso no país”, aponta o Ely José de Mattos, professor da Escola de Negócios da PUC-RS. “Há um excesso de mão de obra e isso faz com que, em um primeiro momento, a retomada no mercado de trabalho venha com salários médios menores”.