Depois de lavajatistas, setores do grande empresariado nacional, enfim, enxergam problemas para a economia com a permanência de Bolsonaro no Planalto e começam a desembarcar do governo

 

A semana foi marcada por uma celeuma envolvendo a divulgação de um manifesto da Federação das Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp) em defesa da democracia e da pacificação. Apesar de não mencionar diretamente o presidente Jair Bolsonaro, o documento é uma evidente reação do PIB à escalada autoritária e golpista do ex-capitão, que tem centrado seus ataques ao Supremo Tribunal Federal e ao Tribunal Superior Eleitoral.

O manifesto da Fiesp, que em 2015 e 2016 colocou um pato na rua em apoio à derrubada da presidenta Dilma Rousseff, parece uma reação tardia ao fato de o país estar à deriva. O documento, intitulado “A Praça é dos Três Poderes”, e que reúne a assinatura de mais de 200 entidades, deveria ter sido lançado até terça-feira, 31. Mas, em razão de uma manobra do presidente da entidade, Paulo Skaf, o manifesto do pato consciente, que já vazou nas redes, só se tornará público oficialmente depois do 7 de Setembro, quando Bolsonaro tiver realizado — não se sabe ainda se com sucesso ou não — novos atos golpistas pelo país. 

Outra polêmica sobre o documento do pato consciente envolveu a adesão da Federação Brasileira de Bancos (Febraban). O governo pressionou os bancos a não aderir ao manifesto e chegou a ameaçar desfiliar a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil. Entretanto, a manobra não prosperou. Na quinta-feira, 2, a Febraban emitiu nota em que reafirma o apoio ao manifesto.

No mesmo dia, 300 empresários mineiros divulgaram uma carta manifestando defesa da democracia. O ato aconteceu em evento virtual organizado pela Associação Comercial e Empresarial de Minas. Na carta, o grupo defende as instituições representativas da sociedade civil.

“A democracia não pode ser ameaçada, antes, deve ser fortalecida e aperfeiçoada. O que se pretende provocar é outro tipo de ruptura: a ruptura através das ideias e da mudança de comportamentos em todas as dimensões da vida“, diz o texto. As entidades veem com “grande preocupação escalada de tensões entre as autoridades”.

Chamada de “Segundo Manifesto dos Mineiros”, a carta foi lançada horas depois da divulgação de um texto da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), atacando o Supremo Tribunal Federal (STF), pelos inquéritos que apuram as fake news e as ameaças à democracia no Brasil.

Parte do agronegócio também começa a desembarcar do governo Bolsonaro. Sete entidades da agroindústria brasileira também publicaram um manifesto com o mesmo objetivo da Fiesp. “As amplas cadeias produtivas e setores econômicos que representamos precisam de estabilidade, de segurança jurídica, de harmonia, enfim, para poder trabalhar”, pontua a nota.

O texto diz que o Brasil, como uma das maiores economias do planeta, não se pode apresentar ao mundo como uma sociedade permanentemente tensionada em crises intermináveis ou em risco de retrocessos e rupturas institucionais. Assim como a Fiesp, o documento não cita Bolsonaro, mas o recado é claro: “O Brasil é maior e melhor que a imagem que temos projetado ao mundo”.

As movimentações da última semana dão a medida do grau de isolamento de Bolsonaro. Os antigos aliados, fiadores do governo do ex-capitão, começam a pegar o mesmo rumo dos lavajatistas, que abandonaram o apoio ao Planalto quando da saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça. Só resta da base social de Bolsonaro a ala ideológica radical e alguns setores das Forças Armadas, confortavelmente acomodados em cargos do governo.