Um mestre da captura da luz
Morre em Brasília o Stuckão, um dos craques do fotojornalismo brasileiro, que atravessou quatro décadas registrando o poder. Foi repórter fotográfico em 32 veículos da imprensa nacional, entre elas a Folha, e fotógrafo oficial de João Figueiredo. É pai de Roberto Stuckert Filho, fotógrafo de Dilma, e de Ricardo Stuckert, que trabalha com Lula
A família Stuckert, com três grandes expoentes do fotojornalismo brasileiro, perdeu o seu patriarca na última semana. Em 23 de agosto, morreu o repórter fotográfico Roberto Stuckert, aos 78 anos, após parada cardíaca. Lenda do jornalismo brasileiro, Stuckão, como era conhecido, deixa a esposa, seis filhos — entre eles os fotógrafos Roberto Stuckert, o Tuca, fotógrafo de Dilma Rousseff, e Ricardo Stuckert, o Stuquinha, fotógrafo de Lula, além de netos e muitos amigos.
Stuckão foi o fotógrafo oficial de João Figueiredo, o último presidente-general a ocupar o Palácio do Planalto antes da redemocratização. Nascido em João Pessoa, na Paraíba, trabalhou em 32 veículos de imprensa ao longo de suas cinco décadas de atuação profissional. Chegou em Brasília para fazer a cobertura da inauguração da cidade, em 1960. Tinha 18 anos. Trabalhava no Diário Carioca e foi mandado para a capital pelo chefe de redação, Pompeu de Souza. Ficou na cidade.
Ao longo dos anos, foi fotógrafo das lendárias revistas Cruzeiro e Manchete, e dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo, além da agência France Presse. Polivalente, como repórter fotográfico, participou da cobertura de três Copas do Mundo de futebol — 1974, 1978 e 1994. Também foi dono da agência Stuckert Press, em Brasília, e influenciou dezenas de fotógrafos que atuaram na capital da República.
A paixão pela fotografia foi herdada e transmitida aos filhos Ricardo e Roberto. Ele mesmo era filho de fotógrafo, o pai era Eduardo Roberto Stuckert. Ainda teve irmãos fotógrafos, primos e sobrinhos — são 33 na família. “Um dos primeiros presentes que ganhei dele, ainda criança, foi uma máquina fotográfica. Ele me entregou e disse ‘Rico, aqui tem a minha vida e você vai aprender a olhar o mundo por este visor’. Depois, com a máquina na mão, ele falou que iria me levar ao laboratório de fotografia para aprender a revelar filmes. Quando entrei naquela sala toda escura e vi a imagem surgindo do filme, perguntei pra ele: ‘Pai, isso é mágica?’. Ele sorriu e disse: ‘Sim, é como se fosse’. Eu cresci acreditando nisso”, conta Ricardo.
“Meu pai era um homem de grande coração. Além de ter me dado o seu próprio nome, me deu também sua profissional”, conta o filho Roberto. “Desde menino, sempre que podia eu acompanhava o seu trabalho, e foi com seu exemplo que aprendi tudo que sou na minha profissão”.
Stuckão deixou João Pessoa para morar em Maceió e, de lá, foi para o Rio de Janeiro, mas escolheu Brasília para viver. Ainda na capital paraibana, estudou num colégio só para meninos e conheceu Adolfina Oliveira, que viria a ser sua esposa anos depois. Foram 58 anos de um casamento feliz.