29 de agosto de 1968

UNB SOFRE INVASÃO PELA TERCEIRA VEZ

Cerca de 3 mil estudantes reúnem-se na Universidade de Brasília (UnB) para protestar contra a ordem de prisão de sete colegas, entre eles Honestino Guimarães, presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE). Policiais militares, agentes do Dops e soldados do Exército detiveram mais de 500 manifestantes numa quadra de basquete. Um estudante foi  baleado na cabeça e 60 pessoas presas. Honestino também foi levado para a prisão. Libertado um mês depois, entrou para a clandestinidade. Militante da Ação Popular Marxista Leninista (APML), foi capturado e morto em 1973. Oficialmente, é um “desaparecido” – até hoje seu corpo não foi encontrado.

 

 

27 de agosto de 1978

CÃES E BOMBAS REPRIMEM MOVIMENTO POPULAR

Milhares de pessoas participam de ato público em São Paulo organizado pelo Movimento Contra o Custo de Vida, entidade formada a partir de associações de bairro, com apoio da igreja católica e diversas organizações de esquerda. A Polícia Militar lançou bombas e cães contra a multidão, que se refugiou na Catedral da Sé. Entre as vítimas, havia donas de casa e crianças da periferia.

No ato público, o movimento divulgou um documento com 1,3 milhão de assinaturas contra o aumento do custo de vida. A inflação oficial no país vinha crescendo nos últimos anos e chegaria a 40% em 1978. Números haviam sido manipulados em 1973, quando o governo divulgou o índice de 15,5%, mas a inflação real fora de 22,5%, de acordo com estudo do Banco Mundial. O governo ignorou o manifesto do movimento.

27 de agosto de 1980

CARTA-BOMBA EXPLODE E MATA NA SEDE DA OAB

Uma carta-bomba explode ao ser aberta na sede da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no Rio. A explosão mata a secretária da presidência da entidade, Lyda Monteiro da Silva. No mesmo dia, também no Rio, explode outra carta-bomba no gabinete do vereador do PMDB Antônio Carlos de Carvalho, ferindo gravemente José Ribamar de Freitas, funcionário do escritório. Mais quatro pessoas sofrem ferimentos leves. Uma terceira bomba é detonada na redação da “Tribuna da Luta Operária”, jornal do PCdoB.

Lyda Monteiro foi a primeira vítima da série de atentados terroristas contra entidades democráticas, jornais, livrarias e bancas de jornais iniciada em 1979. Dez mil pessoas acompanharam o enterro da secretária da OAB. O general presidente João Baptista Figueiredo decretou luto oficial e disse que iria “levar o país à democracia (…), a despeito de quatro, vinte ou mil bombas que atirem sobre nossa cabeça”.

Sete semanas depois da explosão, a Polícia Federal prendeu Ronald James Watters como suspeito de ter deixado a carta-bomba na sede da OAB. Waters, então com 51 anos de idade, era um cidadão dos Estados Unidos conhecido na comunidade de informações por suas ligações com grupos de extrema direita no Brasil.

O presidente do PMDB, Ulysses Guimarães, apontou o general presidente Figueiredo como “o maior responsável pelos atentados”, por deixar seus autores impunes. “Se fosse obra da esquerda, teriam mobilizado todo o aparelho repressivo”, disse o presidente do PT, Luiz Inácio da Silva, o Lula. A impunidade e os atentados continuariam ocorrendo e chegariam ao auge em abril do ano seguinte, quando militares planejaram a explosão de bombas num show de 1° de Maio, que reuniria 20 mil pessoas, no Riocentro. Uma das bombas explodiu antes da hora, matando um sargento e ferindo gravemente um capitão, ambos lotados no DOI-Codi do Rio.

28 de agosto de 1983

COMBATIVA E AUTÔNOMA, CUT NASCE PELA BASE

O Congresso Nacional da Classe Trabalhadora aprova a fundação da Central Única dos Trabalhadores (CUT), a primeira central sindical criada após o golpe de 1964 e a primeira no país a ser lançada pela base. Reunidos por três dias em São Bernardo do Campo (SP), na antiga sede da Companhia Cinematográfica Vera Cruz, 5.059 delegados de 912 entidades sindicais elegem a primeira direção provisória da entidade, com mandato de um ano, tendo como presidente Jair Meneghelli, metalúrgico de São Bernardo.

A primeira reivindicação da CUT foi a retirada do Decreto-Lei 2.045, em tramitação no Congresso Nacional, que limitava os reajustes salariais a 80% do índice de inflação do período. O congresso de fundação aprovou também a luta pelo cancelamento dos acordos com o FMI, contra as intervenções nos sindicatos (como os de petroleiros e bancários de São Paulo) e pela reforma agrária.

A criação da CUT foi um desafio à legislação sindical, que proibia a organização dos trabalhadores de diferentes categorias numa só entidade. Mesmo não sendo “única”, a CUT foi desde o princípio a maior central sindical brasileira e tornou-se a maior da América Latina. A primeira direção executiva era formada por:

 

  • Jair Meneghelli – Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema (SP)
  • Paulo Paim – Metalúrgicos Canoas (RS)
  • João Paulo Pires de Vasconcelos – Metalúrgicos de João Monlevade (MG)
  • Jacó Bittar – Petroleiros de Campinas(SP)
  • Abdias dos Santos – Metalúrgicos de Niterói (RJ)
  • José Novaes – Rurais de Vitória da Conquista (BA)
  • Avelino Ganzer – Rurais de Santarém (PA)
  • Julieta Villanil Balestro – Professores do Rio Grande do Sul.

 

 

29 de agosto de 1993

MADRUGADA DE HORROR EM VIGÁRIO GERAL

A favela de Vigário Geral, na Zona Norte do Rio de Janeiro, é invadida durante a madrugada por um grupo de extermínio composto por 36 homens armados e encapuzados, que arrombam casas e fuzilam 21 moradores.  O assassinato indiscriminado de trabalhadores, estudantes e donas de casa foi uma represália à morte de quatro policiais militares pelo chefe local do tráfico de drogas.

A chacina, noticiada em todo o mundo e condenada pela Organização dos Estados Americanos (OEA), ocorreu 39 dias após o assassinato de oito crianças e adolescentes em frente à Igreja da Candelária, também no Rio. Essa nova tragédia fortaleceu a percepção do Brasil como um país sem controle sobre a violência e sem fronteiras entre a polícia e o banditismo.

Por mais de uma hora, os exterminadores encapuzados espalharam o pavor na comunidade, apesar dos apelos dos moradores. Só 12 horas depois dos assassinatos o Corpo de Bombeiros chegou à comunidade para recolher os corpos diante de 30 mil moradores em estado de choque.

No dia seguinte, o governador do Rio de Janeiro, Leonel Brizola, exonerou o comandante do 9º Batalhão da PM, César Pinto, por estar “mais do que convicto” sobre sua responsabilidade nas ações dos subordinados e prometeu indenizar as famílias das vítimas.

 

 

Esta publicação é fruto da parceria entre o Centro Sérgio Buarque de Holanda, da FPA, e o Memorial da Democracia. Os textos remetem a um calendário de eventos e personalidades da esquerda que é colaborativo e está em constante atualização. Envie suas sugestões por e-mail para [email protected]

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