Resistência jovem e negra
Nas últimas semanas, o Núcleo de Opinião Pública, Pesquisas e Estudos da Fundação Perseu Abramo (Noppe) apresentou na Focus estudos sobre a evolução da opinião pública no que diz respeito à avaliação do governo Bolsonaro e à intenção de voto. Já demonstramos que está entre os moradores da região Nordeste, entre as mulheres e as pessoas de mais baixa renda a maior rejeição ao governo Bolsonaro.
É possível antever aqui a evolução da opinião nos segmentos de jovens (de 16 a 24 anos) e negros (soma dos pretos e pardos, conforme categorias usadas pelo IBGE). Utilizaremos as pesquisas do Datafolha, que publica os dados de segmentos por raça/cor e com o recorte de idade entre 16 e 24 anos.
Como se pode notar no gráfico 1, desde fevereiro de 2020 os jovens de 16 a 24 anos (representados pela linha amarela) e os negros (representados pela linha vermelha) apresentam rejeição acima da média total da população (em linha azul).
Ainda que, ao longo do período de um ano e meio — de fevereiro de 2020 a julho de 2021 —, as curvas tenham se aproximado – mostrando aumento da rejeição da população como um todo –, a diferença entre a avaliação geral e dos negros é bastante significativa.
Em agosto de 2020, por exemplo, enquanto 48% da população negra já se mostrava bastante crítica em relação ao governo, entre a população geral, apenas 34% avaliavam Bolsonaro como ruim e péssimo – uma diferença de 14 pontos percentuais.
Está entre os mais jovens, também, os maiores níveis de oposição em relação ao governo Bolsonaro. Quando perguntados pelo DataFolha se, no caso da compra de vacinas contra a Covid-19, o presidente sabia ou não das suspeitas de corrupção, 72% dos jovens dizem que sim. Na população com mais de 60 anos, esse número cai para 55%. Uma diferença de 17 pontos percentuais.
A maior reprovação e desconfiança em relação a Bolsonaro entre esses segmentos parece se converter em intenção de voto no ex-presidente Lula. Dois gráficos mostram a evolução da intenção apresentada pelos institutos Atlas, DataFolha e IPEC (ex-IBOPE) entre a população jovem e preta.
Como se nota no gráfico 2, o pré-candidato petista apresenta larga vantagem em relação a Bolsonaro. É o IPEC de junho de 2021 que dá maior vantagem a Lula. Nesta pesquisa, entre a população de 16 a 24 anos, Lula tem 53% da intenção de voto e chega a abrir 36 pontos percentuais à frente do atual presidente – que atinge apenas 17%.
Já o último DataFolha (que foi a campo no início de julho de 2021), trouxe Lula com 49% das intenções, o que representa uma vantagem de 29 pontos em relação a Bolsonaro – que atinge apenas 20%.
A mesma tendência é notada quando observamos o recorte de raça/cor preta. No DataFolha de julho, 57% dos que se declaram pretos demonstram intenção de votar em Lula. Na mesma pesquisa, Bolsonaro apresenta apenas 19% da intenção de voto. Uma diferença de 38 pontos percentuais.
Os outros candidatos (Ciro Gomes, João Dória, Luiz Henrique Mandetta e Sérgio Moro) desempenham mal entre a população preta e jovem, não atingindo – em quase todo o período investigado – nem dois dígitos na intenção de voto.