O eterno Policarpo Quaresma
Há exatos 110 anos atrás vinha à luz um dos maiores clássicos da literatura de língua portuguesa, quiçá do mundo: o livro “Triste Fim de Policarpo Quaresma”, da lavra do escritor carioca Afonso Henriques de Lima Barreto. Nascido no ano 1881, filho e neto de descendentes de escravizados com portugueses, perdeu a mãe aos 6 anos de idade, sendo criado pelo pai.
Tipógrafo de profissão, o pai João Henriques era um admirador de D. Pedro II, o que decisivamente contribuiu para as “reservas” que o jovem Afonso Henriques teria com a República, vítima de suas críticas acerbas.
No ano de 1907, Lima Barreto começa a trilhar o caminho da imprensa escrita vindo a colaborar em periódicos. Foi secretário de redação da revista “Fon Fon”. Sua participação na revista, porém teve vida curta, durando de abril a junho de 1907. Em seguida, Lima Barreto funda a revista “Floreal”.
No entanto, foram nas páginas do antigo “Jornal do Commercio, já no ano de 1911, que ele publica em formato de folhetim a sua obra-prima. A primeira edição em livro, inclusive, foi bancada pelo próprio autor, vindo posteriormente a ser um grande sucesso com edições sucessivas até hoje.
“Triste Fim de Policarpo Quaresma” é considerado pela crítica e pela academia como uma obra pré-modernista. Um conceito que veio evoluindo ao longo do tempo até ser interpretada como uma obra atemporal.
Seu personagem principal, o Major Quaresma, um patriota empedernido, sonha em mudar a forma de linguagem no Brasil. Ele faz uma cruzada defendendo o uso do idioma Tupi-Guarani como o verdadeiro símbolo da brasilidade, em vez da língua portuguesa.
Ambientado no período em que o país era governado pelo Marechal Floriano Peixoto, o livro é dividido em três partes, que satirizam a situação brasileira de então: a Revolta da Armada, o academicismo e a situação rural. E aponta: “Ou o Brasil acaba com as saúvas, ou as saúvas acabam com o Brasil”, fazendo um paralelo com a primeira crise do café.
O livro foi adaptado para o teatro pelo diretor teatral Antunes Filho e para o cinema pelo diretor Paulo Thiago, tendo o Major Policarpo Quaresma sendo brilhantemente representado pelo grande ator gaúcho Paulo José. E tem traduções e adaptações pelo mundo afora.
Culto, apesar de não ter diploma universitário, Lima Barreto foi um exímio leitor de clássicos da literatura francesa. Não à toa, ele inicia o livro com uma epígrafe em francês.
A abrangência que a obra assumiu pode ser visto pela imensa quantidade de ensaios, teses de mestrado e doutorado, além de livros e críticas de parte significativa da intelectualidade brasileira. Entre estes, trataram da obra Francisco de Assis Barbosa, Carlos Nelson Coutinho, Lilia Schwarcz, Alfredo Bosi e o mestre Antônio Candido.