A democracia é tão generosa que acolhe, inclusive, aqueles que a negam. Na democracia, um presidente pode ser eleito mesmo defendendo a ditadura, a censura, a tortura e os assassinatos políticos, como é o caso de Bolsonaro. Na democracia, um presidente eleito pode muito, mas não pode tudo e, seguramente, não pode ser um agente do caos sanitário, institucional, político, econômico e social, como tem sido o desgoverno de Bolsonaro.

A imagem do Brasil, duramente construída por governos anteriores, especialmente os do PT, está sendo destroçada com imensos prejuízos para todos. Um crime continuado contra a nação e os brasileiros que vem sendo praticado pelo negacionismo sanitário e ambiental de Bolsonaro.

Na democracia, as Forças Armadas têm um papel cuidadosamente definido pela Constituição e os militares não podem se associar ou estarem nas disputas políticas e partidárias. É terminantemente vedado a um general da ativa participar de um ato político, como aconteceu com Pazzuello que segue impune e protegido por um sigilo de cem anos. Mais grave é tentar transformar uma manobra militar em um instrumento de pressão e ameaça velada aos poderes Legislativo e Judiciário. O tenente Bolsonaro, julgado e convidado a se retirar do Exército, atual comandante em chefe das FFAA, conduziu, com a cumplicidade irresponsável de parte da alta cúpula militar, um desfile patético em um momento importante de votação legislativa e logo após o TSE e o STF enquadrarem seus desmandos em dois processos judiciais. A opinião pública repudiou a iniciativa, as redes sociais debocharam e o mundo civilizado aprofundou o descrédito no sofrido país de Bolsonaro.

Apesar desta patética aventura militar, a Câmara enterrou o voto impresso que era muito importante para o projeto golpista. Bolsonaro tentar conduzir a campanha eleitoral para o descrédito do resultado e a um grande confronto político aberto, como ocorreu recentemente no golpe da Bolívia e nas tentativas da extrema direita também no Peru e no próprio EUA, com Trump. A estratégia golpista do projeto Capitólio de Bolsonaro permanece, mas sofreu um importante revés.

Paralelamente, o centrão segue tentando passar a boiada. Felizmente, o distritão foi derrotado, mas o projeto de reforma tributária regressiva, com medidas de populismo fiscal e antecipação de receitas para o ano eleitoral, que irá agravar a fragilidade orçamentária do próximo governo, continua na pauta. A pedalada nos precatórios e outras medidas para burlar o teto de gastos públicos que Bolsonaro-Guedes se comprometeram a respeitar, permanecem na agenda. E a retirada do auxílio emergencial está sendo acompanhada de uma cortina de fumaça, o Auxílio Brasil, cheio de penduricalhos, que pretende revogar um programa exitoso e reconhecido internacionalmente, o Bolsa Família. Vai tirar com uma mão e devolver parte do que retirou com outra mão e grande pirotecnia.

Os indicadores da indústria e das vendas mostram um cenário de retração no último mês, a taxa de juros voltou a subir com graves implicações para as finanças públicas e para a recuperação econômica. A inflação, especialmente o custo de vida, a energia, o gás e a alimentação seguem empobrecendo e alastrando a fome. O desemprego recorde e dramático permanece intocável. O Brasil está muito cansado, exausto com a tragédia do desgoverno Bolsonaro que continua em seu papel de bobo da corte e agente do caos e do golpismo. As instituições seguem testadas ao limite, com reações importantes por parte do STF e do TSE e pela revogação do entulho autoritário que era a Lei de Segurança Nacional.

Há reações das instituições democráticas, mas as ruas e só elas, serão decisivas para derrotar e vencer Bolsonaro, seu desgoverno e o golpismo.

`