Ney 80 anos: como um vulcão em permanente erupção
O mato-grossense Ney de Souza Pereira, nascido nos idos de 1941 e que no início da década de 1970, veio incorporar o nome de seu estado natal, ao seu nome artístico, completa 80 anos. Filho de pai militar, o artista que viria se notabilizar no Brasil e no mundo com o nome de Ney Matogrosso, teve um começo alucinante em sua introdução tardia na música popular brasileira.
Optando inicialmente pelo teatro e pelo artesanato, Ney começou a ter contato com o meio musical após sua chegada ao Rio de Janeiro, em 1966. Sempre muito visual, em seus primeiros anos de Rio adotou como modus vivendi a filosofia hippie.
Nos primórdios dos anos 70, Ney é apresentado ao compositor e produtor musical João Ricardo, que andava à procura de um vocalista de voz aguda, no intuito de montar um grupo musical: o Secos e Molhados. A entrada no grupo, proporcionou uma viragem fundamental na carreira e com seu jeito profundamente plástico e de pouca roupa, colocou em polvorosa os “defensores da moral e bons costumes” da época e deu um verdadeiro nó na censura, em plena ditadura militar.
O grupo, galvanizando um estilo completamente novo na música- estilo que já fazia um retumbante sucesso em musicais com o grupo Dzi Croquetes, liderado pelo bailarino americano-brasileiro Lennie Dale – gravou dois long plays pela antiga gravadora Continental, que chegaram a atingir a marca de 1 milhão de cópias vendidas. Desentendimentos quanto ao estilo de músicas e diferenças financeiras fizeram a formação original se desmantelar, fazendo Ney optar para uma brilhante carreira solo.
A ousadia e a busca constante em fustigar o conservadorismo, tem sido uma constante na sua vida e na sua arte. Suas interpretações de Rosa de Hiroshima, do poeta Vinicius de Moraes, O Vira e Sangue Latino, ainda nos Secos e Molhados, foi uma espécie de avant premiere de Ney e uma verdadeira inovação na cena musical brasileira. Nunca, a denominação de showman foi tão verdadeiramente aplicada no país. Dado o magnetismo e o apuro de coreógrafo que Ney Matogrosso, seus espetáculos arrastavam e arrastam multidões.
Seus mais de 30 discos. Todos eles carregando mais de um sucesso compõem um mosaico artístico-cultural, transcendendo a mesmice de outros artistas que permanecem presos a estilos e formas.
Intérprete privilegiado de artistas como: Chico Buarque, Moraes Moreira, Cartola, Cazuza, entre outros. Acompanhado de banda, onde aprimorava a forma teatralizada e os movimentos do corpo, ou no estilo Voz e violão, sendo célebre a parceria com o excelente violonista Raphael Rabello, no clássico disco À Flor da Pele, gravado ao vivo em 1990
O artista sempre investiu no elemento cênico em suas apresentações, se notabilizando também em iluminação. É dele um projeto de iluminação da Fundação Oswaldo Cruz, em 2009 e do Grupo de Dança Palácio da Artes de Belo Horizonte, em 2015.
E agora, depois de 5 décadas de carreira e vários prêmios conquistados Ney Matogrosso aos 80 anos lança pela gravadora Sony Music, o álbum digital Nu com a Minha Música, e que terá todas as faixas em streaming lançadas até o fim do ano. Além de ter uma biografia sobre sua vida e sua carreira, lançada no mês de julho escrita pelo jornalista Julio Maria e editado pela Companhia das Letras.
São icônicas sua interpretação de Não Existe Pecado ao Sul do Equador; Homem com H; Balada do Louco, Pavão Misterioso; Seu Tipo, entre tantas outras que compõe a obra de Ney.