Bolsonaro está atolado, não governa e se dedica apenas a tentar mobilizar sua base social, cada vez mais reduzida, com seu discurso terraplanista, negacionista e obscurantista. Bolsonaro tenta arrastar as instituições democráticas para a areia movediça da aventura golpista.

Por isso, ainda que tardias, são muito importantes as reações dos ministros Barroso do TSE e Alexandre de Moraes e, agora, Fux, em nome do STF, que procuram estabelecer limites aos recorrentes e cada vez mais rebaixados e agressivos ataques do ex-capitão às cortes superiores e ao principal fundamento da democracia, a soberania do voto popular.

Lamentavelmente, ao que tudo indica, as Forças Armadas não se comprometeram com esse movimento de preservação dos valores republicanos e do estado democrático de direito e sua hierarquia está sendo exposta a esse lamaçal de Bolsonaro.

O Congresso Nacional, especialmente a Câmara dos Deputados e seu presidente, parece mais ocupado com o fisiologismo e com os próprios privilégios do que com a tragédia sanitária e com a grave crise econômica do país. Com Bolsonaro, cerca de 53% dos investimentos públicos são de emendas parlamentares impositivas, fragilizando a baixa capacidade do Estado de atuar sistemicamente para a recuperação econômica e a proteção social de uma multidão brasileiros desempregados e lançados à pobreza e à fome.

O Centrão segue passando a boiada. O projeto de grilagem de terra e o regime de urgência da reforma tributária, que retira R$ 24 bilhões de governadores e prefeitos a partir de 2023, que antecipa receitas de governo futuros, que concede novos benefícios, que não tributa os ricos e super ricos e que agrava a injustiça tributária, já foram aprovadas. Além disso, a privatização dos Correios, uma empresa que lucrou R$ 12 bilhões em 20 anos e repassou 73% de seus resultados para o Governo, também já foi votada à toque de caixa.

Temos ainda a tentativa de aprovar o distritão, que fragiliza os partidos, que aumenta o peso do poder econômico e que reduz a diversidade da representação parlamentar. E se não bastasse, está na pauta a reforma administrativa que desmonta o carácter republicano do Estado e que segue tramitando sem debate e participação da sociedade.

Bolsonaro está atolado, por seu negacionismo genocida, pelos esquemas de corrupção que começam a ser revelados, pelo desastre da política econômica, pelo desmonte das políticas públicas e pela  profundidade da crise social. Isolado e sem credibilidade, Bolsonaro lança mão de uma PEC para pedalar os precatórios,  ou melhor para “motociar” a dívida pública já tramitada em julgado, retirando R$ 16 bilhões dos estados do Nordeste, em busca de espaço fiscal para um programa que alavanque a campanha eleitoral do ano que vem. Propõe furar o teto para bancar um suposto novo Bolsa Família, com uma série de retrocessos e que pretende dar com uma mão, o que tira com a outra, com o fim do auxílio emergencial.

Como sabe que caminha para uma derrota política certa e que o populismo fiscal não será capaz de retirar o governo desse atoleiro, flerta com o golpismo a partir da narrativa dos imaginários riscos de fraude nas urnas eletrônicas. Defende uma volta ao voto impresso para tumultuar o processo eleitoral e testar nossa democracia no limite.  Ameaça ministros do STF com expressões típicas de milicianos. Ao invés de largar a pá e parar de cavar o buraco em que se meteu, Bolsonaro radicaliza no discurso, segue alardeando o golpe e tenta arrastar as instituições democráticas para o atoleiro que o envolve.  

A elite financeira acaba de lançar um manifesto tentando se dissociar desse projeto de desconstrução nacional, mas importante foi sócia de Bolsonaro e Guedes desde o início, por adesão ou omissão, e segue apoiando o descalabro dessa política econômica neoliberal e irresponsável com o futuro do Brasil. Os bancos registram lucros recordes, ao lado dos recordes de desemprego e da fome, que já estão presentes em cada esquina das grandes cidades.

Essa conjuntura exige uma reação coesa e consistente das instituições e das lideranças do país em defesa da democracia. É fundamental a realização das eleições de 2022, com respeito a todas as candidaturas que queiram disputar, mas com a garantia plena do resultado e da posse de um novo governo que venha a ser eleito, que ao que tudo indica será o de Lula, a grande liderança portadora de futuro e de esperança para o povo Brasileiro.