Professora e líder indígena mapuche, Elisa Lancon está à frente da Assembleia Nacional Constituinte

 

Pela primeira vez, uma líder indígena terá o papel de conduzir o Chile à redação de uma nova Constituição rompendo com a herança da ditadura do general Augusto Pinochet (1974-1990). Durante os próximos nove meses, Elisa Loncon, pertencente à etnia mapuche, presidirá a Assembleia Constituinte. Tem a missão de promover uma carta plural e que respeite os direitos e a existência dos povos originários.

Há um forte simbolismo em ter uma mapuche à frente da redação de uma nova Constituição. “Sempre se pedirá essa justiça histórica. Não apenas a justiça histórica, mas todo o reconhecimento da vulneração dos direitos das nações originárias exige uma mudança de política”, disse ao Correio Braziliense. “É preciso instalar formas de reparar violações. Com a Constituição, esperamos que se reconheça a vulneração dos direitos humanos das nações originárias. Não apenas com os mapuche, mas com todas as nações originárias”.

Ela lembra que a Constituição é herança de Pinochet. “A Carta Magna diz que o Chile é uma nação única, indivisível. Esse caráter de nação única marginaliza os direitos de todas as nações originárias. O mínimo de dois terços [para mudar a Constituição] foi instalado pela ditadura para que a cidadania jamais tivesse o direito de modificá-la”, lembra.

Foi uma amarra para manter o status quo e o controle político e econômico”, diz Elisa Lancon, acadêmica do Departamento de Educação da Faculdade de Humanidades da Universidade de Santiago e especialista em educação intercultural bilíngue. Ela lembra que o modelo imposto por Pinochet no Chile resultou na neoliberalização total da economia.

“Abriu-se espaço para empresas transnacionais, que levam a riqueza do Chile. Com isso, o Chile, o sistema e a sociedade se empobreceram”, denuncia. “As políticas sociais são, de certa forma, políticas individualistas. Elas não favorecem nem garantem direitos das comunidades, dos povos, mas fortalecem o livre mercado e a livre concorrência. Alguns podem pagar e ter mais (recursos), e outros nada têm e não possuem direito à educação e à saúde digna”.