Incêndio na Cinemateca, um crime anunciado
O descaso do governo Bolsonaro com a cultura nacional ultrapassou os limites da negligência e da guerra estimulada pelo Palácio do Planalto contra artistas e intelectuais, resultando agora na eliminação física de parte da história do cinema nacional. Na quinta-feira, 29, enquanto o presidente Jair Bolsonaro se preparava no Alvorada no final da tarde para dar início a mais uma live no Facebook com ataques e mentiras às urnas eletrônicas, um galpão localizado na Vila Leopoldina, em São Paulo, começava a ser engolido por um incêndio.
No acervo da Cinemateca Brasileira, eliminados pelo fogo e o descaso do governo, cuja política pública para a cultura é corte de investimentos e ataques simultâneos à produção artística, o acervo documental de Glauber Rocha, da Embrafilme e de alunos de cinema da USP. Funcionários da Cinemateca, que vêm denunciando o descaso e o corte de recursos para o órgão desde o governo Temer, incluem entre as perdas incluem parte do Arquivo do Instituto Nacional do Cinema (1966-1975) e do Conselho Nacional de Cinema (1976-1990).
Na semana anterior, o Ministério Público Federal, em audiência com representantes da União, alertou o governo do risco, por abandono da instituição. A Secretaria Especial da Cultura, sob o comando do ator bolsonarista Mário Frias, ganhou mais 60 dias para iniciar procedimentos para a preservação do patrimônio. Não deu tempo. O fogo consumiu já uma parte da história do cinema nacional.
Na sexta-feira, 30, funcionários da Cinemateca divulgaram manifesto sobre o incêndio que consumiu o galpão da instituição. Eles descrevem o incêndio como “crime anunciado” e apontam que o abandono do poder público e a demissão de todo o corpo técnico de funcionários há mais de um ano pode ter causado “consequências irreversíveis” para o estado de conservação dos materiais.