Obsessivo na bravata de pressionar a democracia, Bolsonaro assistiu, esta semana, a uma forte reação das instituições à sua tentativa de pavimentar uma saída golpista para a iminente derrota eleitoral em 2022. Pressionado e isolado, também foi obrigado a entregar a chave do cofre e a caneta dos cargos ao Centrão, notadamente o PP, patrocinando mais uma humilhação aos generais bolsonaristas no governo.

A primeira grande reação partiu do STF que, de forma inédita, publicou um vídeo oficial, desmentindo Bolsonaro, que insistia em dizer que a Corte teria impedido o governo federal de atuar no combate à pandemia de Covid-19: “Uma mentira contada mil vezes não vira verdade”.

Além disso, Bolsonaro organizou uma live constrangedora em que prometia apresentar provas sobre as fraudes nas urnas eletrônicas. Entretanto, de forma patética o próprio presidente admitiu não ter provas sobre fraudes em eleições anteriores e foi desmentido em tempo real pelo TSE que promete reagir com ações.

Os ataques de Bolsonaro ao atual sistema eleitoral são graves e o alicerce de sustentação do golpismo, porque sabe que, em uma eleição limpa, ele não vence Lula. Por isso, aposta no voto impresso para tentar tumultuar o processo eleitoral e repetir a estratégia golpista da extrema direita, como ocorreu no Peru, na Bolívia e nos Estados Unidos, com Trump. 

À medida em que o governo desmorona, Bolsonaro radicaliza nas mentiras e nas ameaças golpistas. Mas, essa estratégia parece ter chegado ao limite do esgotamento, uma vez que a maioria da população rejeita o presidente e o considera falso e autoritário. Também esbarra na dramática situação social e sanitária do país, já amplamente tratadas neste espaço.

Nesse contexto, Bolsonaro assume que sempre foi do Centrão e da velha política, que nas eleições prometia combater. Passeando de moto, criando factóides e fake news para distrair o que resta de sua base social, assemelha-se a um bobo da corte. Enquanto isso, os profissionais tomam conta do governo e tentam passar a boiada do retrocesso e as contra-reformas neoliberais. 

Já na primeira semana de retomada dos trabalhos legislativos a base bolsonarista tentará aprovar a reforma política com o voto impresso e o distritão, sistema utilizado em apenas 2% dos países e que agride a pluralidade, a diversidade, a representatividade e o fortalecimento dos partidos. Também está na pauta a privatização dos Correios e a reforma administrativa, que enfraquece o caráter republicano do Estado e abre espaço para o aparelhamento e o fisiologismo.

Não menos grave é a iniciativa de reforma tributária, que já abandonou os avanços do projeto original da Receita — combate à elisão fiscal, ataque a algumas desonerações e taxação de lucros e dividendos. Pelas declarações públicas de Paulo Guedes e parlamentares aliados, só deverá sobrar do projeto o populismo fiscal, com a desoneração de pessoas físicas e jurídicas e a antecipação de receitas para as eleições.

É uma proposta eleitoreira e inconsistente, que compromete a capacidade de atuação do próximo governo e limita a capacidade do Estado de atuar como agente indutor da retomada do crescimento. Uma verdadeira bomba fiscal de efeito retardado para o futuro governo. A proposta não combate privilégios e mantém a desoneração das receitas do capital e a perversa regressividade tributária. 

A disputa dessa agenda de retrocessos no Congresso precisa chegar à opinião pública. A oposição precisa ampliar o diálogo com as forças do centro com compromisso democrático na Câmara para enfrentar e procurar derrotar a truculência e o autoritarismo de Bolsonaro. Essa disputa terá impacto direto na garantia das eleições no ano que vem e na posse do candidato eleito — ao que tudo indica, será Lula, a grande esperança portadora de futuro para o povo brasileiro. E será decisiva para a governabilidade e a margem de manobra do futuro governo no combate à fome, ao desemprego e às desigualdades.

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