A Casa Civil sob nova direção: Ciro Nogueira
No coração do Palácio do Planalto emerge agora um prócer do Centrão: o senador Ciro Nogueira (PP-PI). Nunca, em tempo algum, esse grupo de profissionais da velha política, obteve tanto poder. A Casa Civil não é apenas a porta de entrada da cozinha da Presidência da República. É também o coração do governo, responsável pela máquina administrativa, nomeações em todos os escalões e o regente do governo.
Na terça-feira, 27, a entrada de Ciro na Casa Civil foi confirmada pelo Palácio do Planalto. Sai o General Luiz Eduardo Ramos, deslocado para a Secretaria Geral da Presidência, coroando um movimento político de Bolsonaro em meio à perda de popularidade, ao cerco da CPI da Covid no Senado e à necessidade de sobrevida para as eleições presidenciais de 2022.
De cara, Ciro Nogueira foi incumbido de aprovar no Senado o nome de André Mendonça para o Supremo Tribunal Federal, tourear a CPI da Covid, tirar o governo da rota de colisão com as instituições democráticas e reconquistar aliados. Parece difícil, tendo em vista os novos arroubos autoritários de Bolsonaro, que não só apenas mantém a corda esticada com as instituições, como continua a fustigar ministros do STF e do TSE.
A estratégia de ceder espaço ao Centrão, na prática, é a 27 ª mudança ministerial de Bolsonaro. Os generais perderam espaço e Ciro é o quarto ministro da Casa Civil do desgoverno. Antes dele ocuparam o cargo Onyx Lorenzoni — agora no Ministério do Trabalho —, o General Braga Netto – atual ministro da Defesa – e o General Luiz Eduardo Ramos.
Diante das críticas de que contrariou promessas de campanha ao se casar de papel passado com o Centrão, Bolsonaro disse que precisa melhorar a interlocução com o Congresso. “Fomos nos moldando”, argumentou. Uma mudança e tanto de posição. Quando Bolsonaro estava em campanha, bateu diversas vezes nas figuras do grupo político. Na semana passada, se rendeu à realidade. “O centrão é um nome pejorativo. Eu sou do Centrão. Eu fui do PP metade do meu tempo. Fui do PTB, fui do então PFL. No passado, integrei siglas que foram extintas, como PRB, PPB. O PP, lá atrás, foi extinto. Depois, nasceu novamente da fusão do PDS com o PPB, se não me engano”, afirmou. “Eu nasci de lá”, completou. Não tem nada a ver”, confessou.
O casamento de conveniência seria uma volta às origens. Mas o Centrão já foi defenestrado pelo General Augusto Heleno. “Se gritar pega centrão, não fica um, meu irmão”, cantou Heleno, em cena filmada e postada nas redes sociais, durante a convenção nacional do PSL, que oficializou a candidatura de Bolsonaro à Presidência da República.
O militar não via com bons olhos o agrupamento político. “Querem reunir todos aqueles que precisam escapar das barras da lei num só núcleo. Daí criou-se o Centrão. O Centrão é a materialização da impunidade”, afirmou Heleno, naquela ocasião. Resta ver se o general mudou de opinião. O novo colega de governo no Planalto é réu da Lava Jato e responde a cinco processos na Justiça. Entre eles estão inquéritos que investigam propina recebida da Odebrecht e da JBS.