Uma imagem trincada
A mais recente pesquisa do instituto Datafolha apontou uma desaprovação da população em relação à participação de militares na política — com um total de 58% dos brasileiros reprovando a presença destes em cargos da administração pública.
Destacamos tais dados no Boletim 11 do Núcleo de Opinião Pública, Pesquisas e Estudos da Fundação Perseu Abramo (NOPPE). Outros dados divulgados por institutos de pesquisa nos últimos dois anos e meio, que demonstram que, desde o começo do governo Bolsonaro, houve um abalo considerável da imagem das Forças Armadas.
Ao início do mandato de Bolsonaro, dois dados chamaram a atenção. Segundo o IBOPE, em pesquisa realizada em janeiro de 2019, 62% concordavam com a ideia de um governo militar — uma novidade na série histórica do instituto; em 2014, por exemplo, apenas 32% mostravam simpatia a essa ideia. Em abril do mesmo ano, levantamento do Datafolha trouxe dados semelhantes: 60% dos entrevistados consideravam positiva a participação de militares no governo. Estes dados reforçaram à época uma ideia de que o governo Bolsonaro, recém-eleito, se beneficiava do prestígio de ter entre seus quadros membros e comandantes de uma instituição que tinha índices substanciais de confiança e aprovação na opinião pública. Segundo o Datafolha, na mesma época, 80% dos brasileiros tinham algum grau de confiança nas Forças Armadas.
Desde então, diversos institutos apontam que — seja pelo desempenho do governo, que teve índices significativos de reprovação antes e durante a pandemia, seja pelas controvérsias envolvendo os militares aliados a Bolsonaro — o quadro mudou consideravelmente.
Já em 2020, durante a pandemia, o instituto Poderdata — divisão de pesquisas do portal Poder 360 — revelou que 50% dos brasileiros tinham algum grau de desconfiança nas Forças Armadas. A pesquisa, realizada em junho daquele ano, apontou que os brasileiros estavam relativamente divididos sobre a participação dos militares no governo Bolsonaro: 37% viam de forma negativa e o mesmo número viam de forma positiva — dados que contrastavam com o alto prestígio das FFAA e com a aprovação da presença militar no governo vistas no início do mandato.
Duas pesquisas realizadas em abril deste ano confirmam essa tendência. O instituto Ideia Big Data, em parceria com a revista Exame, questionou seus entrevistados sobre o aumento ou diminuição da confiança em diversas instituições durante a pandemia. Se, por um lado, houve aumento do prestígio do SUS para 35%, por exemplo, 18% perderam a confiança nas Forças Armadas — um número considerável se ponderarmos que por muito tempo tinham confiança e prestígio bastante sólidos frente à população.
No mesmo mês, o PoderData verificou aumento de 8% na rejeição dos brasileiros à ideia de militares no governo federal — 45% avaliaram como ‘ruim’ esta ideia. No mês seguinte, o Datafolha confirmou tal tendência. Segundo pesquisa realizada nos dias 11 e 12 de maio de 2021, eram 54% os que eram contrários à presença de militares em postos da administração pública.
Considerando esses dados mais recentes, de que 58% reprovam tal presença no Executivo, é possível chegar a algumas hipóteses e até a conclusões. Há uma deterioração razoável e contínua da avaliação dos militares no governo federal e das próprias Forças Armadas enquanto instituição.
No início do governo a presença de fardas na Esplanada dos Ministérios e no Palácio do Planalto emprestava a Bolsonaro parte do prestígio e confiança que as FFAA tinham até então. Passados mais de dois anos, Bolsonaro, que ainda tem como fiadores os militares que ainda estão ao seu lado e que fazem coro às suas políticas desastrosas, arranha consideravelmente a imagem das Forças Armadas.
Não obstante, a atuação de militares, como o ex-ministro da Saúde e general da ativa Pazuello, retira prestígio das FFAA e reduz a simpatia dos brasileiros pela presença de fardados no Executivo.