Em meio à reforma ministerial, anunciada pelo presidente Jair Bolsonaro, a grande imprensa aponta o esvaziamento da superpasta do ministro da Economia, Paulo Guedes, lamentando a recriação do Ministério do Trabalho e descrevendo o risco do esvaziamento da política de emprego. Como se o governo tivesse o que mostrar

 

Na quinta-feira, 22, o jornal Valor Econômico estampou numa manchete de primeira página que a reforma ministerial anunciada por Jair Bolsonaro resultaria na perda da articulação da política de emprego do ministro da Economia para as eleições de 2022. O título é risível, porque não há o que perder o que nunca se teve. O governo Bolsonaro, em dois anos e meio de mandato, não gerou emprego, mas produziu um desastre monumental escancarado nos números oficiais do mercado de trabalho: 15 milhões de desempregados.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva denuncia que a política econômica de Bolsonaro, que retira direitos e garantias trabalhistas em favor de um empreendedorismo de araque, está gerando uma doença social que o Brasil parecia ter erradicado na década passada: a fome. “Temos 15 milhões de pessoas desempregadas, outras seis milhões não procuram mais emprego e mais 33 milhões que estão subempregadas. Estamos vivendo uma situação grave no país, eu não esperava que a fome voltasse como voltou. Voltou forte”, lamentou.

O Ministério do Trabalho será recriado e entregue a Onyx Lorenzoni, um médico veterinário e inexpressivo deputado federal do Democratas do Rio Grande do Sul, que desde o início da gestão de Bolsonaro tem zanzado pela Esplanada dos Ministérios, acomodando-se ao sabor dos humores do presidente. Foi ministro-chefe da Casa Civil até fevereiro de 2020, depois assumiu o Ministério da Cidadania, onde permaneceu até meados de fevereiro de 2021 e estava agora na Secretaria-Geral da Presidência, de onde sai para um Ministério do Trabalho, sem interlocução com líderes sindicais e nem entre empresários.

Mas, agora diante das pesquisas eleitorais que apontam o ex-presidente Lula, como favorito às eleições presidenciais e para dar mais espaço ao seu grupo político formado por parlamentares do Centrão, Bolsonaro planeja fazer uma reforma ministerial, retirando da Economia, tanto as Pastas do Trabalho como a da Previdência. O mais cotado A assumir é Onyx Lorenzoni, que hoje ocupa a Secretaria-Geral da Presidência.

Para o presidente da CUT, Sérgio Nobre, desde a década de 1930, é a primeira vez que o governo passou a funcionar sem uma pasta dirigida ao mundo do trabalho. Ele diz que a recriação não significa que o erro será corrigido. “É somente uma medida com fins eleitorais com a qual Bolsonaro, desesperado ante as pesquisas e a CPI, busca alocar mais apoiadores dentro do governo e garantir, assim, votos e aprovação às suas ações desastrosas”, opina.

Nobre tem sido um crítico severo da política econômica do governo Bolsonaro, que só piorou a qualidade de vida da população, que está mais pobre, faminta e sem trabalho. Ele diz que a tragédia social é ainda muito maior, desde o Golpe de 2016, porque os dados são mais graves.

Pelo menos outros 6 milhões de brasileiros deixaram de procurar emprego em tempos de pandemia — os chamados desalentados — o que eleva o total de brasileiros sem ocupação a 21 milhões de pessoas. Soma-se a este assombroso número o total de inativos que buscam emprego — mais de 5 milhões de pessoas — e fica claro o tamanho do desastre imposto pelo governo Bolsonaro aos trabalhadores brasileiros: 26 milhões de pessoas sem renda.

A brutal desigualdade brasileira, que aumentou desde o Golpe de 2016, quando o Congresso e setores da elite brasileira retiraram Dilma Rousseff da Presidência da República com um impeachment sem crime de responsabilidade, é o resultado direto da agenda neoliberal austericida, que está ampliando o fosso social do país, gerando fome e outras mazelas sociais que pareciam ser passado depois da passagem do PT pelo Palácio do Planalto, com Lula e Dilma. “Este governo não tem nem espaço de interlocução com a classe trabalhadora”, lembra Sérgio Nobre.

O que Bolsonaro e Guedes fizeram é resultado direto dessa ignorância e ataque impiedoso e sem trégua aos trabalhadores. A propalada política de empregos gestada por Paulo Guedes e sua equipe econômica de Chicago Boys foi de extermínio.

Desde 2017, com Michel Temer, duas reformas trabalhistas ampliaram a precarização do trabalho e jogaram nas costas do trabalhador uma tragédia agravada pela pandemia e a política antisocial de Bolsonaro. O pacote de maldades levado a cabo pelos neoliberais incluiu cortes de direitos trabalhistas e de garantias históricas de amparo ao trabalhador.

Na semana que passou, o Banco Mundial desenhou um cenário trágico para a década. Segundo o relatório “Emprego em Crise: Trajetória para Melhores Empregos na América Latina Pós-covid-19”, nos próximos nove anos a falta de vagas e as maiores perdas salariais recairão sobre trabalhadores menos qualificados.

“No Brasil e no Equador, embora os trabalhadores com ensino superior não sofram os impactos de uma crise em termos salariais e sofram apenas impactos de curta duração em matéria de emprego, os efeitos sobre o emprego e os salários do trabalhador médio ainda perduram nove anos após o início da crise”, aponta o relatório.

Na semana anterior, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgou estudo mostrando que, nos períodos com condições mais desfavoráveis no mercado de trabalho — como o que o país atravessa — o efeito do desemprego pode representar uma diminuição de 10% a 15% nos rendimentos dos indivíduos que conseguem se reempregar.