As compras de vacinas sob suspeita, feitas na gestão do General Eduardo Pazuello, envolvem outros oficiais das Forças Armadas, que agora também estão no centro das investigações do Senado

 

No começo, as suspeitas de irregularidades nas compras das vacinas pelo Ministério da Saúde pareciam circunscritas ao segundo escalão da pasta. À medida que as investigações da CPI da Covid do Senado se aprofundam, surgem mais evidências de que militares do governo de Jair Bolsonaro estão no centro das suspeitas de corrupção envolvendo compra superfaturadas de imunizantes contra o coronavírus. O General Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, e que agora ocupa um cargo ligado diretamente à Presidência da República, não é o único oficial de alta patente das FFAA na mira dos senadores.

Dos sete núcleos de investigação em funcionamento na CPI, pelo menos três – justamente os de maior potencial explosivo – estão apurando fatos ligados à atuação de militares na gestão de Pazuello no Ministério da Saúde. Estão sob investigação direta coronéis da reserva que ocupavam a cúpula da pasta.

Um deles é o Coronel da reserva Élcio Franco, ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde e braço direito de Pazuello. Ele é investigado pela CPI da Covid também pelo atraso na aquisição de vacinas. E foi quem conduziu a negociação da vacina Covaxin, do laboratório indiano Bharat Biotech, suspensa pelo atual ministro Marcelo Queiroga após suspeitas de irregularidades. Franco é assessor especial da Casa Civil.

Outro militar de alta patente sob investigação é o também Coronel da reserva Marcelo Blanco da Costa. Ele era o diretor substituto de Logística do Ministério da Saúde e foi citado pelo vendedor da Davati Medical Supply, Luiz Paulo Dominghetti Pereira, como o responsável por intermediar e participar de um jantar com o então diretor de Logística da pasta, Roberto Dias, a quem acusa de cobrar propina de US$ 1 pela aquisição de cada dose da AstraZeneca.

O Coronel Marcelo Bento Pires é outro sob investigação da CPI. Ele foi diretor de Programa do Ministério da Saúde, apontado pelo servidor da pasta Luis Ricardo Miranda como um dos autores da pressão para agilizar a liberação de documentos para a importação da vacina Covaxin. Outro militar de alta patente sob a mira da CPI é o Tenente-coronel Alex Lial Marinho, coordenador-geral de Logística de Insumos Estratégicos para Saúde, indicado por Pazuello para o cargo. É apontado pelo servidor Luis Ricardo Miranda como um dos autores da pressão para importação da Covaxin, apesar da falta de documentos junto à Anvisa.

O militar de baixa patente que está tendo a vida funcional esmiuçada é o ex-sargento da Aeronáutica Roberto Ferreira Dias. Ele é o ex-diretor de logística do Ministério da Saúde, acusado por Luiz Paulo Dominghetti de cobrar propina. Dias é uma das pontas investigadas.

As digitais dos militares estão presentes na tentativa da empresa Precisa Medicamentos de vender doses da Covaxin ao Ministério da Saúde, no fim de 2020. A negociação é a principal linha de apuração da CPI, que deixou de fazer audiências públicas, mas continua trabalhando internamente na identificação de documentos. 

Outra linha de investigação da CPI que aponta diretamente para as Forças Armadas é a produção pelo Laboratório do Exércitode cloroquina, um medicamento antimalárico sem ação contra a Covid-19. O Exécito tem em estoque medicamento para os próximos 18 anos. Até agora não foi possível apurar quem deu a ordem direta para a força ampliar a produção. Os ministérios da Saúde e da Defesa negam ter partido deles a decisão.

As citações a militares resultaram num atrito entre a caserna e a CPI. A tensão culminou com uma nota pública assinada pelos comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica criticando o presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM). Na volta do recesso, o colegiado quer ouvir o ministro da Defesa, General Braga Netto. O colegiado quebrou o sigilo dos e-mails do general.

Há dois requerimentos para convocação de Braga Netto. Um foi motivado pela reunião realizada no Planalto que chegou a tratar de uma proposta de mudar a bula da hidroxicloroquina para que ela pudesse ser recomendada contra a covid. O remédio não funciona contra a doença.

Outro requerimento busca detalhar o papel do general à frente do Comitê de Crise montado para traçar planos para conter o avanço do vírus. O trabalho é alvo de críticas do Tribunal de Contas da União (TCU), que faz auditorias na governança do trabalho.