A tempestade perfeita contra o governo Bolsonaro, que já denunciamos neste espaço, avança de maneira acelerada. O primeiro fator que impulsiona o desgaste do governo é a constatação de que o negacionismo, que resultou em quase 550 mil brasileiros mortos pela Covid-19, envolvia também uma grande negociata na compra de vacinas pelo Ministério da Saúde.

O segundo é a crise social dramática que tomou conta do país. Cerca de 14,5 milhões de famílias voltaram para a pobreza extrema, a fome voltou a ser uma realidade massiva, a soma dos desempregados e dos desalentados atinge mais de 21 milhões de pessoas e a alta dos alimentos e da energia corrói o poder de compra das famílias. 

Ao mesmo tempo, a política econômica neoliberal se mostra cada vez mais incapaz de apontar soluções para o crescimento, mantendo os ganhos com a especulação financeira, enquanto aumenta o abismo entre os mais ricos e os mais pobres.

Com isso, a base social do presidente se esvai e até o núcleo duro do chamado bolsonarismo está cada vez mais na defensiva e com dificuldades de defender o desgoverno. O projeto de reeleição está claramente ameaçado e o impeachment avança na pauta do país, impulsionado pelo aumento das mobilizações populares. Caminhamos para o quarto grande ato contra o Bolsonaro neste ano, o #24J, e conforme a vacinação avançar, mais pessoas se sentirão seguras para irem às ruas contra o governo.

Desesperado, errático e patético, Bolsonaro apela para o populismo barato para tentar uma sobrevida, como os esvaziados passeios de moto e a tentativa frustrada de utilização política de uma internação médica. O resultado é que todos aqueles que se aproximaram do presidente estão desgastados e desacreditados, como o ex-superministro Paulo Guedes, que teve seu núcleo de poder esvaziado e esquartejado em razão do fracasso da política econômica e da necessidade de um arranjo de acomodação política esdrúxula.

Aliás, como tentativa de fuga, Bolsonaro entregou de vez o governo ao Centrão, especialmente ao PP. Enquanto permanece como bobo da corte, Arthur Lira avança com a agenda neoliberal de desmontes e controla o orçamento secreto e, agora, Ciro Nogueira ascende como ministro-chefe da Casa Civil, jogando por terra o discurso eleitoral de Bolsonaro da antipolítica e de um governo sem o fisiologismo do “toma lá, dá cá”.

O Exército atravessa um desgaste crescente em razão de milhares de oficiais terem assumido funções de governo e se associarem à Bolsonaro. Emblemática, a gestão Pazuello e seu grupo de assessores militares no Ministério da Saúde está marcada pela criminosa incompetência e por graves indícios de corrupção, como tem revelado a CPI da Covid no Senado.

A última bravata militar foi a patética ameaça golpista do ministro da Defesa, Braga Netto, caso as eleições presidenciais do ano que vem não sejam por meio do voto impresso, que forneceria as condições materiais para questionar o resultado das eleições de 2022, com uma Operação Tabajara-Capitólio.

A ação desastrada do general gerou uma reação contundente das instituições, da imprensa e do Congresso que exigem explicações convincentes para além do desmentido. As forças democráticas e as mobilizações de rua estão enfrentando o golpismo e a tutela militar de ameaça recorrente à democracia.

Na mesma proporção em que Bolsonaro se inviabiliza, se degrada e é desmascarado pela CPI, Lula avança na construção de uma candidatura cada vez mais ampla e consistente, que pode levá-lo a uma vitória já no primeiro em 2022.

O Brasil vive uma corrida contra o tempo e a reconstrução de um país com diálogo, tolerância, democracia, soberania e um projeto de desenvolvimento, que assegure estabilidade, crescimento, distribuição de renda e esperança no futuro, depende cada vez mais de Lula Lá.