Desmatamento na Amazônia cresce 51% nos últimos 11 meses, enquanto o mundo assiste atônito aos desmandos do governo Bolsonaro, que lidera o ecocídio. Estudos mostram que floresta tropical já libera mais gás carbônico do que é capaz de absorver

 

A escalada de destruição na floresta amazônica e no Pantanal seguem sem qualquer tipo de controle, sob os auspícios do governo Bolsonaro, que não só é omisso, mas criminosamente estimula as atividades predatórias nas matas brasileiras. Em um ano, foram desmatados 8.381 km², entre agosto de 2020 a junho deste ano, contra 5.553 km² de agosto de 2019 a junho de 2020. O ritmo de destruição é frenético e mostra uma situação caótica e de perigo imediato para o planeta.

Um estudo publicado pela revista científica Nature, uma das mais respeitadas do mundo, mostra que a queima da floresta amazônica agora produz cerca de três vezes mais gás carbônico do que a vegetação remanescente é capaz de absorver. Isso acelera o aquecimento global. O jornal inglês The Guardian destacou em manchete de primeira página que que o desmatamento está transformando a região amazônica de amiga do clima em inimiga da humanidade.

O jornal chegou a apontar que a floresta amazônica “entrará em colapso se Bolsonaro permanecer presidente”. Acadêmicos e ativistas ambientais alertaram o mundo que os ataques do governo brasileiro às proteções ambientais. “Apesar das evidências de que o fogo, a seca e o desmatamento estão empurrando a Amazônia para um ponto sem volta, eles dizem que o líder de extrema direita está mais interessado em aplacar o poderoso lobby do agronegócio e explorar os mercados globais que recompensam o comportamento destrutivo”, aponta.

O senador Jaques Wagner (PT-BA), presidente da Comissão de Meio Ambiente do Senado, alerta que a situação do país é grave e que o governo ignora que os impactos econômicos advindos da falta de proteção ao meio ambiente podem ser desastrosos para o Brasil. “Dados do Relatório Anual do Desmatamento, elaborado pelo MapBiomas, mostram que 13,8 mil quilômetros quadrados foram desmatados no país em 2020, 99% de forma ilegal. Um aumento de 14% em relação à 2019”, adverte o parlamentar. “Precisamos reforçar o compromisso de todos e todas em cuidar e preservar estes importantes patrimônios naturais. Nossas florestas precisam estar de pé para continuarem capturando carbono, regulando o clima e combatendo as mudanças climáticas”, diz.

A situação é crítica. Os números mostram que a devastação é cada vez mais intensa na Amazônia. Foram desmatados 926 km² da Amazônia Legal apenas em junho, um aumento de 10% em relação ao mesmo período do ano passado. Nos últimos 11 meses, o crescimento da área desmatada foi de 51%. Os dados são de um levantamento feito pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). “As áreas desmatadas em março, abril e maio foram as maiores dos últimos 10 anos para cada mês. E, se analisarmos apenas o acumulado em 2021, o desmatamento também é o pior da última década”, aponta o pesquisador Antônio Fonseca.

As áreas mais afetadas foram Pará (36%), Amazonas (25%), Mato Grosso (14%), Rondônia (11%), Acre (9%), Maranhão (3%) e Roraima (2%). O monitoramento é feito com imagens coletadas por satélite e radar. O boletim mostra ainda que o desmatamento no Pará, um dos estados mais afetados, está concentrado nas cidades de Altamira, São Félix do Xingu, Novo Progresso e Itaituba. “Uma parcela do desmatamento que ocorre nesses municípios está situada em áreas sem destinação de uso, o que caracteriza o processo de ocupação da terra através de ações de grilagem para regularização futura”, destaca Fonseca.

Nos dois primeiros anos do governo Bolsonaro, o número de autos de infração por “crimes contra a flora” (desmatamento, queimada ou garimpo irregular, por exemplo) na Amazônia Legal tiveram queda de 43,5%. Foram 2.610 autos registrados por ano de 2019 a 2020. A média anual anterior, de 2012 a 2018, era de 4.620. Os números são os menores em 21 anos.

Bolsonaro é um crítico do que chama de “indústria da multa” por parte do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), órgão responsável pela fiscalização ambiental. Suas críticas começaram quando ele foi multado, em 2012, por pesca ilegal na Estação Ecológica de Tamoios, entre Angra dos Reis e Paraty, municípios do estado do Rio.

Ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles foi o responsável pela política ambiental do governo até junho deste ano. Ele pediu demissão em 23 de junho depois de se tornar alvo de uma investigação da Polícia Federal por supostamente favorecer madeireiros que promovem contrabando de madeira extraída ilegalmente da floresta amazônica.

A Amazônia Legal tem uma área de mais de 5 milhões de km², que corresponde a cerca de 60% do país. Ela foi criada nos anos de 1950 para proteger e desenvolver a região, por meio de incentivos ficais. A área de proteção inclui 772 municípios localizados nos Estados do Amazonas, Roraima, Rondônia, Pará, Amapá, Acre, Tocantins, Mato Grosso e Maranhão. Além da Floresta Amazônica, a Amazônia Legal engloba parte do cerrado, do Pantanal e outras formações vegetais.