Desemprego. O tamanho do desafio
É dramática a situação em que vivem milhões de trabalhadoras e trabalhadores no Brasil. As mudanças tecnológicas impactam os postos de trabalho, as profissões, a formação profissional e, muitas vezes, desempregam. A desindustrialização precoce e continuada fecha bons postos de trabalho. A recessão e o pífio dinamismo econômico dobraram as taxas de desemprego entre 2016 e 2020, ampliando a informalidade e incentivando a rotatividade.
A pandemia do Covid19 piorou e agravou os indicadores das ocupações laborais. As mudanças legislativas realizadas desde 2017 legalizaram a precarização, incentivando postos de trabalho de baixa qualidade, ampliando a vulnerabilidade e a insegurança no emprego, suprimindo direitos e arrochando salários. O espectro da destruição no campo do trabalho comanda as políticas públicas e é incentivado por uma parte do empresariado, animada com a redução do custo do trabalho e o fim dos sindicatos.
O desafio é achar caminhos que alterem as dinâmicas que destroem empregos, retiram direitos, suprimem políticas públicas de proteção laboral e social, inviabilizam os sindicatos e incentivam a desfiliação dos trabalhadores. Esses caminhos terão que ser construídos para responder aos dramas do contexto situacional presente e futuro. Por isso, temos que analisar o problema e compreender suas dimensões.
Segundo o IBGE (PNAD Contínua, abril 2021), há no Brasil 177 milhões de pessoas em idade de trabalhar — 14 anos ou mais —, dos quais 86 milhões estavam ocupadas e 14,7 milhões desempregadas, totalizando 100,7 milhões ativos como empregados ou desocupados e 76,4 milhões fora da força de trabalho.
Em 2020, o patamar de ocupação chegou a menos de 47% daqueles que tinham idade para trabalhar. Em abril de 2021, subiu para 48,5%, ainda assim são os menores níveis da série histórica. Em 2013, o nível de ocupação chegou a 57,3%. A distância entre essas duas situações ocupacionais 2013/ 2021) significa que cerca de 15 milhões de postos de trabalho foram e permanecem destruídos a partir de 2013.
Atualmente a taxa de desemprego é de 14,7%, o dobro da taxa verificada em 2013 que estava em torno 7%. Portanto, há hoje cerca de 15 milhões de pessoas que ativamente procuram um emprego, quase 8 milhões a mais do que havia em 2013. Mas há também um contingente de 6 milhões de desalentados, pessoas que desistiram da procura por ser infrutífera a luta para conquistar um posto de trabalho.
A situação de muitos dos ocupados também é difícil. Dos 86 milhões que estão empregados, 30 milhões têm carteira de trabalho assinada. Os trabalhadores do setor público somam quase 12 milhões e outros 4 milhões são empregadores.
A desigualdade e precarização se apresenta com 10 milhões de assalariados sem carteira de trabalho assinada e que trabalham na ilegalidade. Cerca de 24 milhões são trabalhadores por conta própria, a grande maioria sem proteção laboral e previdenciária. Cinco milhões são trabalhadoras(es) domésticas(os), a maioria na informalidade. Nesse contingente de 86 milhões de ocupados, cerca de 40% está na informalidade. A taxa não é pior porque a pandemia destruiu em maior intensidade as ocupações mais precárias.
Entre os empregados, o IBGE estima que mais de 7 milhões estão subocupados porque têm jornada de trabalho parcial, inferior, portanto, àquela que gostaria de trabalhar e para a qual estão disponíveis.
O quadro apresenta o resumo desse contexto situacional. Há 26 milhões de trabalhadores que precisam de um posto de trabalho, outros 7 milhões queriam ter uma jornada de trabalho integral. Há uma demanda real pela criação de mais de 33 milhões de postos de trabalho.
Uma política econômica orientada pelo interesse social e coletivo deveria induzir dinâmicas de investimentos e políticas públicas para gerar milhões de postos de trabalho, mobilizando políticas protetivas para incluir 60 milhões de trabalhadores que carecem de proteção laboral.
Trata-se de um desafio hercúleo que requer um projeto de desenvolvimento focado na geração de empregos a partir da articulação de um tecido produtivo orientado pela cooperação para o incremento da produtividade e distribuída em todo o território nacional, o crescimento da renda do trabalho, comprometido com a sustentabilidade ambiental e superação das desigualdades.