Os presidentes da França e do México, entre outros líderes, foram alvos do sistema Pegasus, que o vereador Carlos Bolsonaro queria contratar pelo Ministério da Justiça do Brasil

 

O celular do presidente da França, Emmanuel Macron, e de mais uma dezena de altos políticos, como o atual presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, aparecem como possíveis alvos do sistema de espionagem Pegasus, da empresa israelense NSO. A denúncia foi revelada pelos jornais Le Monde, The Guardian e Washington Post, que lideram um consórcio de 18 grandes veículos de imprensa internacional que desvendaram o escândalo.

Além de Macron, aparecem os presidente Cyril Ramaphosa (África do Sul) e Barham Salih (Iraque) e os primeiros-ministros Imram Khan (Paquistão), Saad-Eddine El Othmani (Marrocos), Mostafa Madbouly (Egito) e o rei marroquino Mohammed VI. A lista ainda inclui ex-líderes do Líbano, Itália, Bélgica e Uganda. Todos teriam sido alvos do spyware Pegasus, criado pela empresa israelense, a mesma que Carlos Bolsonaro, vereador no Rio de Janeiro e filho de Jair Bolsonaro, tentou adquirir via Ministério da Justiça para criar uma “Abin paralela”, conforme denúncia revelada pelo UOL em junho.

No último domingo, 18, um consórcio de jornais e organizações liderado pelo projeto francês Forbidden Stories revelou que os governos de vários países podem ter espionado pelo menos 50 mil números de telefone de ativistas, jornalistas e políticos usando o spyware Pegasus.

No caso de Macron, o presidente francês teria sido espionado com auxílio da ferramenta pelo governo do Marrocos, que teria vigiado ainda o ex-primeiro-ministro Édouard Philippe e 14 ministros franceses. O governo da França abriu uma investigação, enquando  a NSO negou a acusação e disse que Macron nunca foi um alvo de qualquer de seus clientes. Le Monde e outros jornais mantiveram a denúncia e as acusações.

O jornal britânico The Guardian denunciou que o Marrocos também espionou os telefones de Tedros Adhanom Ghebreyesus, secretário-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2019, e do ex-premiê belga Charles Michel, que hoje preside o Conselho Europeu. O consórcio também revelou que serviços de inteligência do México fizeram uso da ferramenta em larga escala durante o governo de Enrique Peña Nieto (2012-2018). O país lidera a lista de números espionados com quase 15 mil. Entre os alvos estão jornalistas, ativistas e até López Obrador. O governo Peña Nieto teria espionado até mesmo parentes de um grupo de estudantes mexicanos assassinados em 2014.

O diário estadunidense Washington Post aponta que, dos 50 mil números de telefone possivelmente espionados mundo afora com a ferramenta, os autores da investigação já conseguiram identificar mil pessoas em pelo menos 50 países. O grupo inclui pelo menos 65 funcionários do alto escalão de empresas, 85 ativistas de direitos humanos, 189 jornalistas e mais de 600 políticos e autoridades governamentais em todo o mundo.