Na efervescente Buenos Aires dos anos 20, mais especificamente em 11 de março de 1921, nascia na província de Mar del Plata, Astor Pantaléon Piazzola, filho de um casal de imigrantes italianos. Criado nos Estados Unidos, para onde a família emigrou, foi lá que Piazzola travou os primeiros contatos com a música. Iniciou seus primeiros passos aprendendo piano. Mas foi ao ganhar de presente, aos 12 anos, um bandoneón do pai, que o mestre começou a recriar o estilo que lhe deu universalidade.

Por incrível coincidência, foi em Nova York que Piazzola conheceu um dos grandes inspiradores de sua carreira: o cantor Carlos Gardel. Ele estava na cidade para gravar o filme El Dia Que Me Queiras, onde o jovem músico atuou, fazendo uma ponta como entregador de jornal. Reza a lenda que Gardel, ao ouví-lo tocar bandonéon, o convidou imediatamente para participar de sua turnê pelas Américas. O convite foi prontamente recusado pelo pai do jovem Astor, pela sua pouca idade na época.

Estranhando e ao mesmo tempo admirando o jovem bandoneonista, Gardel foi profético ao antever que o menino teria uma brilhante carreira pela frente. O que de fato aconteceu.

Considerado incontestavelmente como um dos principais, se não o principal compositor e instrumentista da Argentina — e um dos maiores no mundo —, Piazzola foi muito contestado no início da longa carreira pelas inovações que incorporava ao tango, considerado uma “entidade” para os hermanos.

Ele foi chamado de assassino do tango, sendo não apenas atacado pela imprensa portenha, como insultado nas ruas de Buenos Aires. A “descoberta” de sua genialidade por seu próprio povo se deu muito depois de iniciada sua carreira. Há que se destacar que Piazzola, quando aceito como grande músico em seu país de origem, já tinha uma longa e exitosa carreira na Europa, nos Estados Unidos e também no Brasil.

Em 1959, ao voltar de Paris, depois de receber a notícia da morte do pai, trancou-se em um quarto da casa e ao longo de uma noite insone compôs aquela que é considerada uma de suas obras-primas: “Adiós Noniño”.

Inesquecível entre nós, algumas de suas composições foram usadas como parte da trilha sonora do filme “Toda Nudez Será Castigada”, dirigido por Arnaldo Jabor e baseada na obra do dramaturgo Nelson Rodrigues. A canção Fuga número 9, foi agraciada na época com a Menção Especial do Juri no Festival de Berlim, como melhor trilha sonora do ano de 1973.

A sonoridade de Piazzola ganhou os salões sendo aclamada em seguidas apresentações nos principais teatros e casas de espetáculo ao redor do mundo. Em meados de 1975, o autor tem uma espécie de epifania criativa e compõe Libertango, uma verdadeira reinvenção da música popular do cinturão de Buenos Aires.

Fumante inveterado desde a juventude, Piazzola sofreu um derrame cerebral, em 4 de agosto de 1990, em um apartamento em que morava na cidade de Paris. Em seguida, entrou em estado de coma e não resistiu, vindo a falecer em 4 de julho de 1992.

Autor de mais de 2 mil músicas e tendo gravado mais de 70 discos, Piazzola foi resgatado posteriormente, como uma espécie de autocrítica argentina. Hoje, é símbolo e referência, como o grande músico e arranjador. E virou uma quase unanimidade em seu país. Além de ser recorrentemente tocado por orquestras das mais relevantes cidades do planeta.

Como parte da comemoração pelo seu centenário de nascimento, a Fundação Clóvis Salgado, de Minas Gerais exibiu em suas páginas da internet um vídeo inédito de “Verano Porteño”, um dos clássicos do mestre.

Os jornais, rádios e TVs da Argentina lembraram a trajetória e a vida do grande músico. O jornal Página 12, de Buenos Aires, publicou também uma longa resenha do livro Astor Piazzola Momentosdos escritores María Seoane e Victor Hugo Morales, da Editorial Octubre, ainda sem tradução para o Brasil.

O Teatro Colón, de Buenos Aires, realizou uma série de homenagens com apresentações de grupos musicais e orquestras sinfônicas entre 27 de março e 23 de maio, dedicada à obra do maestro. A criatividade, inovação e genialidade de Piazolla atravessaram e continuarão atravessando gerações.

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