O Brasil está diante do maior desafio pós-redemocratização. A democracia e suas instituições estão sendo atacadas e ameaçadas cotidianamente. O grande agente desestabilizador do nosso tecido social e estabilidade institucional é o próprio presidente. A escalada golpista exige uma reação imediata de todos aqueles comprometidos com o Estado Democrático de Direito.

A opção política de apostar na teoria da imunidade de rebanho e de boicotar as medidas de distanciamento social, o uso de máscaras e a compra de vacinas, que levaram o Brasil a ter 25% das mortes por Covid-19 no mundo, somada à volta da miséria, da fome, do desemprego, do desalento e da inflação, levaram ao derretimento da base social de Bolsonaro.

A última pesquisa DataFolha revelou que 51% dos brasileiros consideram o governo Bolsonaro ruim ou péssimo. A maioria dos entrevistados acham o presidente desonesto, falso, incompetente, despreparado, indeciso, autoritário e pouco inteligente. Uma imagem política devastadora.

Ao aumento da rejeição de Bolsonaro somam-se as graves denúncias de corrupção reveladas pela CPI da Covid no Senado. Ao que tudo indica, enquanto o ex-capitão aparentemente negligenciava a compra dos imunizantes, atacava as vacinas chinesa e russa, rejeitava dezenas de ofertas da Pfizer, adiando a vacinação em massa, foi o responsável direto pelos mais de 530 mil mortos pela pandemia em nosso país.

Um esquema de superfaturamento e cobrança de propinas na compra de outras vacinas se instalou no Ministério da Saúde. Nunca foi apenas ignorância e negacionismo. Havia, segundo as investigações da CPI, dois grandes esquemas de corrupção sistêmica no governo Bolsonaro disputando o superfaturamento na compra de vacinas.

Um deputado da própria base governista afirmou ter revelado uma negociata na compra da vacina indiana Covaxin diretamente ao presidente da República. Ele até agora não desmentiu o fato. E nenhuma medida para apuração da denúncia foi tomada. O esquema envolveria o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), notório membro do chamado Centrão.

Outra grave denúncia trazida à luz pela CPI foi a tentativa de cobrança de propinas no valor de US$ 1 por dose de vacinas em negócios intermediados pela empresa Davati. O esquema teria participação de alguns militares, um pastor e figuras do alto escalão do governo, envolvendo coronéis e generais de alta patente. Todos exercem cargos relevantes na gestão Bolsonaro. Ao que tudo indica, o caso teria se tornado público em razão da disputa entre os dois esquemas que disputavam a corrupção na compra das vacinas.

Esse brutal desgaste e a falta de perspectivas compromete o projeto eleitoral de Bolsonaro e coloca a possibilidade de impedimento do presidente na pauta. Com o isolamento político crescente, a retomada das lutas populares nas ruas e o cerco institucional se aprofundando, o ex-capitão aumenta as ameaças para as eleições de 2022. Bolsonaro chegou a declarar: “Ou fazemos eleições limpas no Brasil, ou não temos eleições”.

Do outro lado, um conhecido operador das sombras, o golpista Michel Temer, tenta uma manobra parlamentar para a aprovação de um semipresidencialismo já em 2022. Isso depois de dois plebiscitos em que o povo rejeitou o parlamentarismo. É evidente que essa manobra se configura como mais uma tentativa de tolher um eventual mandato presidencial de Lula.

Pelo DataFolha, Lula vence Bolsonaro por 58% a 31%. Por isso, ele é a grande esperança e a força do povo, cresce nas pesquisas e na construção de um apoio político cada vez mais amplo.

Mais do que nunca é preciso coesão das forças democráticas para garantir eleições limpas do ano que vem. Precisaremos assegurar o respeito integral aos resultados das urnas. Também apurar com todo rigor, fortalecendo o trabalho da CPI, as responsabilidades na pandemia e as denúncias de corrupção que envolvem parte do Centrão e a alta hierarquia militar, que sustentam o governo Bolsonaro. A democracia não pode e não será emparedada.

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