Repúdio ao genocida

Oitocentos mil brasileiros voltam às ruas de 360 cidades do país para pedir o impeachment de Jair Bolsonaro, responsável pela morte de 520 mil pessoas. Manifestações foram intensas e descortinam a pressão das ruas para que Arthur Lira abra o processo de afastamento do presidente

 

O povo voltou a colocar a voz nas ruas brasileiras, no sábado, 3 de julho, exigindo a saída de Jair Bolsonaro da Presidência da República e o responsabilizando diretamente pela morte de mais de 520 mil brasileiros, vítimas do descaso e da política de saúde criminosa do governo de extrema-direita. O mundo viu correr as imagens de enormes multidões de manifestantes — mais de 800 mil pessoas — em mais de 360 cidades do país para exigir a remoção do presidente, envolvido em corrupção e fiador de uma política sanitária negacionista que coloca em risco a vida da população.

Dezenas de milhares de manifestantes saíram às ruas do Rio de Janeiro na manhã de sábado, enquanto os apelos pelo impeachment de Jair Bolsonaro se intensificavam após as acusações de que integrantes de seu governo haviam tentado lucrar ilegalmente com a compra das vacinas da Covid, importadas pelo Ministério da Saúde. “O povo acordou”, disse Benedita da Silva (PT-RJ), 79 anos, veterana deputada da esquerda carioca, em comício no Rio. Além do impeachment, os protestos pediram mais vacinas e o auxílio emergencial de R$ 600.

Pela primeira vez, os protestos convocados por entidades e movimentos sociais, que também têm o respaldo de partidos políticos e centrais sindicais, contou com líderes políticos e militantes do centro e da direita que antes hesitavam em aderir aos atos. Até o PSDB de São Paulo endossou os atos contra o governo do genocida. “Essas manifestações são pelo impeachment e pela certeza de que teremos a continuidade da democracia”, disse o senador Humberto Costa (PT-PE), direto das ruas do Recife.

Pela terceira vez, em menos de dois meses, milhares de pessoas tomaram as ruas para exigir a saída de Bolsonaro do Palácio do Planalto. Diante das ameaças golpistas e autoritárias de Bolsonaro, a defesa da democracia e do patrimônio nacional também estão no centro das manifestações. Os protestos também ocorreram em pelo menos 15 outros países.

Na manhã de sábado, a exemplo do atos de 29 de maio e 19 de junho, várias capitais abrigaram protestos, como Belém, Campo Grande, Florianópolis, Goiânia, João Pessoa, Maceió, Porto Velho, Recife, Rio de Janeiro, São Luís e Teresina. No exterior, cidades europeias como Berlim, Hamburgo, Dublin e Viena foram as primeiras a registrar manifestações. Nos Estados Unidos, houve protestos em Nova York, Washington, Miami e outras cidades.

De acordo com a imprensa internacional, muitos nas manifestações, pelo menos no Rio, disseram que não eram membros da esquerda e simplesmente queriam se livrar do líder de extrema direita, a quem acusam de condenar milhares de seus brasileiros à morte com sua caótica resposta ao coronavírus, agora agravada pelas suspeitas de corrupção e prevaricação.

O ator Paulo Betti foi para as ruas do Rio carregando uma bandeira nacional. “Estamos aqui para homenagear os mortos e declarar: ‘Estamos vivos!’”, disse o artista de 68 anos, condenando os ataques de Bolsonaro à Amazônia. A atriz Sílvia Buarque também manifestou apoio à destituição do presidente. “Esta pandemia me convenceu de que não podemos esperar para eliminá-lo”, disse. “Não podemos permitir que esta destruição continue”.

O ato aconteceu na Avenida Presidente Vargas, e na Cinelândia, no Centro do Rio. Entre cartazes contra o presidente, destacaram-se também bandeiras do Brasil e do movimento LGBTQIA+. Devido à pandemia, alguns manifestantes distribuíram álcool em gel e máscara para os demais presentes no ato.

Inicialmente previstas apenas para o próximo dia 24, as manifestações foram antecipadas após crise desencadeada no governo frente as suspeitas sobre a compra da vacina indiana Covaxin e a acusação de pedido de propina para aquisição de doses da AstraZeneca. Os protestos foram organizados às pressas e ocorrem exatas duas semanas depois dos últimos atos contra Bolsonaro, em 19 de junho.

Na cidade de São Paulo, o ato começou às 15 horas. Em cidades do interior do estado, como Sorocaba, Jundiaí, Bauru e Piracicaba, houve manifestações no início da manhã. A presidenta nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), compareceu ao ato, ao lado de Fernando Haddad, Jilmar Tatto, Paulo Teixeira e outros dirigentes da legenda. “Em SP junto com o povo que exige o impeachment de Bolsonaro e o fim do governo da morte”, disse. “Queremos vacinas, renda mínima de R$ 600 até o fim da pandemia e cadeia para o genocida, que deixou brasileiros morrerem por causa de um esquema de corrupção”.

Outros manifestantes presentes no ato da Avenida Paulista espalharam réplicas de notas de US$ 1 estampadas com o rosto do presidente brasileiro e manchadas com tinta vermelha. O material faz referência direta à denúncia de Luiz Dominguetti, representante da empresa Davati Medical Supply. Ele relatou que o ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, teria cobrado propina de US$ 1 por dose de vacina pelo contrato para a aquisição de 400 milhões de unidades do imunizante contra a Covid-19 da AstraZeneca.