Bolsonaro completa dois anos e meio de mandato deteriorado, cada vez isolado politicamente, perdendo base social e pressionado pelos movimentos populares. O povo está nas ruas, mesmo durante a pandemia, lutando contra o genocídio, o desemprego, a fome e agora contra a corrupção na compra de vacinas, que explica muito das atitudes negacionistas do governo durante a pandemia e o próprio atraso na imunização.

A luta e o apoio político pelo Fora Bolsonaro crescem e ganham força. A tempestade perfeita vai se formando sobre o governo. Com isso, a conjuntura está se radicalizando e Bolsonaro, acuado e isolado, recorre a uma narrativa autoritária e golpista. Lula avança em todas as pesquisas de opinião e a chamada terceira via permanece sem candidato competitivo e unidade política.

Bolsonaro, apesar de ser um político profissional, elegeu-se com a negação da política, na onda lavajatista de combate à corrupção, em desrespeito ao devido processo legal e as garantias dos direitos individuais. Entretanto, depois das “rachadinhas” e agora com as denúncias de corrupção em uma área tão sensível que é a saúde pública, em um país devastado por 520 mil mortes, há um clima de acelerado impulso ao seu impedimento.

Um deputado de direita da própria base do governo declara à CPI que informou diretamente a Bolsonaro sobre a corrupção na compra de vacinas. E nenhuma medida foi tomada para apurar a denúncia. Para piorar a situação, o denunciante disse que escutou da boca do próprio Bolsonaro que o caso envolveria o deputado Ricardo Barros, líder do governo na Câmara.

Dias depois, veio à tona nova denúncia não menos grave: um indicado de Barros, acompanhado por um militar, teria cobrado US$ 1 por dose para a compra de outra vacina. Enquanto Bolsonaro atacava e impedia a compra de outros imunizantes mais baratos e disponíveis, negociatas ocorriam no Ministério da Saúde, militarizado pelo General Pazuello e outros oficiais.

O silêncio de Bolsonaro dá a medida do quão está emparedado o governo. Sem argumentos para rebater ou desmentir as acusações, o ex-capitão recorreu ao velho expediente de agredir os membros da CPI e ameaçar a democracia com nova tutela militar. O véu do presidente que se apresentava como incorruptível começa a ser rasgado pela verdade de um governante que articulou o tempo todo com o Centrão para garantir seu mandado, complacente com negociatas obscuras da sua base aliada.

O presidente prevaricou. Informado das pressões contra servidores para o pagamento antecipado de vacinas, envolvendo uma empresa que já era investigada por ter fraudado o ministério em conluio com Ricardo Barros, não mandou apurar e nem afastou os envolvidos.

Soma-se a essa panela de pressão o superpedido de impeachment, protocolado pela oposição e até setores da direita, incluindo antigos aliados de Bolsonaro, na quarta-feira, 30, e as novas e poderosas manifestações contra o governo. Esse conjunto de fatores nos coloca diante de um desafio histórico.

De um lado, Bolsonaro aposta na desqualificação das urnas eletrônicas e na incitação da desordem e da quebra de hierarquia nas Forças Armadas e nas polícias militares, bem como na sua íntima relação com as milícias. O objetivo é questionar o resultado das eleições de 2022 e se manter no poder ainda que derrotado pelo voto popular. Seu projeto golpista seria mais um exemplo do que já ocorreu recentemente, por ação da extrema direita nos EUA, na Bolívia e no Peru.

Do outro lado, Lula surge como grande farol portador de futuro para o povo, com o resgate de um projeto generoso de reconstrução nacional. Por isso, mais do que nunca, é fundamental que as instituições assegurem a democracia e a soberania das urnas. Com o povo nas ruas e democracia, voltaremos.

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