PING PONG | RAIMUNDO BONFIM – “O povo entrou na cena”
Raimundo Bonfim, coordenador nacional da Central de Movimentos Populares (CMP) e articulador da Campanha Fora Bolsonaro, fala sobre a ampliação do número de participantes nos atos contra o governo e da pressão das ruas para a abertura do processo de impeachment contra o presidente da República. “São mais de 120 pedidos de impeachment. Se unificarmos, podemos chamar de um pedido de impeachment das ruas”, diz.
Focus Brasil — Qual a sua avaliação sobre os atos?
Raimundo Bonfim — Aumentou a indignação porque após o 29 de maio o presidente continuou com seus atos de barbárie, zombando da morte mesmo em vias de se aproximar de 500 mil mortos. Também surgiram vários fatos da CPI da Covid. As duas “motociatas”, no Rio e em São, são revoltantes para quem está com conhecidos em hospitais ou com problemas de desemprego. Outro elemento importante é que aumentou a confiança das pessoas. Não temos relatos de contaminações por causa dos atos em 29 de maio.
Também há um elemento que podemos considerar que ampliou um pouquinho: setores do PSB e do PDT se envolveram. O movimento Acredito também se envolveu. E tivemos uma cobertura melhor da grande mídia. Eles ficaram em “maus lençóis” porque tentaram esconder o ato de 29 de maio. E foi destaque fora do país e só depois recebeu destaque aqui. Acho que eles não acreditavam. Até mesmo os analistas políticos mais afinados, de direita e de esquerda, não conseguiam cravar que em menos de um mês, num período de pandemia, seria possível ocorrer duas gigantescas mobilizações no Brasil. É uma demonstração de que, de fato, a indignação e a disposição de lutar contra esse governo é muito forte.
— Sobre a cobertura da imprensa, Como você vê essa tentativa de enquadrar o movimento?
— Realmente, a cada entrevista que a gente concede, o pessoal vem com essa. De fato, o movimento é capitaneado pela esquerda e tem também o PSB, o PDT e a Rede [setores desses partidos] que participam. O critério para participar é quem tinha feito pedido de impeachment. Mas, de fato, as pessoas que têm ido às ruas não são só as bases dos movimentos e dos partidos de esquerda. É perceptível nas ruas. Aqui em São Paulo, por exemplo, você vê muita gente que não é ligada a esses grupos da esquerda.
É só uma narrativa que tentam emplacar, até porque o Brasil não tem característica de antecipar processo eleitoral com mobilização de rua. Ora, essas milhares de pessoas que estão indo para a rua não iriam se tivessem a percepção de que se trataria de um movimento eleitoral com objetivo de gerar desgaste. Eu tenho afirmado nas minhas entrevistas que não é um movimento que visa desgastar o Bolsonaro para favorecer o Lula. Se o movimento vai favorecer o Lula, é consequência. Mas esse não é o fundamento.
Há uma indignação forte [nos protestos], só não percebe quem não quer. Há uma fadiga muito forte em amplos setores da sociedade e que não é só por causa da tragédia pela forma como o Bolsonaro não trata a pandemia.