Nove anos do golpe contra Lugo no Paraguai
O Paraguai comemorou na terça-feira, 22, os nove anos do golpe de Estado que em 2012 removeu o presidente Fernando Lugo, eleito democraticamente em abril de 2008. A partir da Frente Guasu, uma concentração de partidos paraguaios organizaram um painel no qual os ex-presidentes Lugo e Dilma Rousseff, além do senador argentino e ex-chanceler Jorge Taiana participaram para avaliar o impacto que o golpe promoveu na América Latina.
A ex-presidente do Brasil Dilma Rousseff lamentou o episódio, mas lembra que aquilo desencadeou uma onda de instabilidade política na região. “Porque a memória é também a busca da verdade, e estamos procurando a verdade dos fatos, do que aconteceu na América Latina que conseguiu tirar tantos presidentes, culpar tantos líderes políticos importantes que não eram presidentes na época, mas foram antes”, apontou.
“Viemos do Golpe de Honduras, um golpe grosseiro, no estilo dos anos 70, com o presidente eleito preso e levado de sua casa”, lembrou Lugo, que viajou com o então chanceler Jorge Taiana ao país da América Central, embora as autoridades de fato que demitiram Manuel Zelaya não tenham permitido o desembarque da comitiva.
“Isso permite lembrar verificar que o fato do Paraguai não foi isolado e não terminou ali. Foi seguido pelo golpe contra Dilma no Brasil e depois a Evo Morales, na Bolívia. Espedro que Pedro Castillo não seja outro Fernando Lugo”, disse o ex-presidente paraguaio, eleito em 20 de abril de 2008.
Lugo assumiu o poder em uma histórica transição democrática que encerrou mais de 60 anos de continuidade do Partido Colorado no país. “Quando assumimos que faríamos um governo voltado para o povo, com sucessos e fracassos, luzes e sombras (…) Camponeses que podiam entrar no palácio do governo, fazíamos reuniões com os cidadãos, com as comunidades, camponeses e jovens”, lembrou Lugo.
“Por isso se repetiram as ameaças de nos tirar do poder. Em alguns aspectos, temos sido um pouco ingênuos porque as ameaças de impeachment foram repetidas várias vezes. Alguns dizem que houve 22 ameaças de impeachment. No número 23 o executaram”, afirmou Lugo. “Em 2009 já instalaram na mídia que Lugo não estava saindo, que estava absorvido pelo poder, que ia continuar uma longa ditadura, e alguns acreditaram nisso”, acrescentou.
“Ao meio-dia de 21 de junho nos disseram que tínhamos 17 horas para fazer a defesa”, lembrou Lugo, sobre a véspera do golpe e o texto acusatório que “não tinha nenhum argumento que pudesse legitimar um julgamento político de um presidente”.
Dilma lembrou o momento em que soube da notícia do impeachment de Lugo. “Nunca houve dúvida de que havia um golpe contra Lugo no Paraguai porque esse histórico de denúncias era extremamente frágil”, disse. “Era algo que não podíamos ignorar, conseguir um presidente com base em argumentos bastante frágeis em 24 horas. Que processo democrático é esse? Qual procedimento de defesa?”, questionou.
Ela lembrou a decisão dos presidentes da Unasul. “O país não teria mais o direito de participar do Mercosul e da Unasul”, afirmou. “E concordamos com qualquer proposta retaliar o país como interrupção do financiamento ou interrupção das relações que afetassem o povo paraguaio porque foram as classes oligárquicas que o afastaram” , comentou. “Foi uma época em que a Unasul e o Mercosul tinham força para fazer isso, mas não o fizeram quando sofri o impeachment”.