CPI coloca Queiroga, Pazuello e Ernesto entre investigados e esmiuça as relações suspeitas do presidente da República com empresários amigos. “Os indícios são fartos e robustos”, diz Renan

 

A CPI da Covid já tem farta documentação – incluindo telegramas, ofícios e documentos oficiais dos ministérios das Relações Exteriores e da Saúde – mostrando que a condução do governo Bolsonaro na pandemia da Covid-19 foi irresponsável e criminosa, com indícios e suspeitas de diversos crimes cometidos por autoridades. O rol de ilícitos do governo vai de peculato até advocacia administrativa, passando por improbidade. Além disso, a CPI agora tem oficialmente uma lista de 14 pessoas investigadas, incluindo ministros, ex-ministros, autoridades e o empresário Carlos Wizard, que fugiu para o México.

A comissão aprovou a quebra de sigilo de empresários que lucraram com a venda de medicamentos do chamado “kit covid”, além de Carlos Wizard, apontado como integrante do “Gabinete das Sombras”, que assessora Jair Bolsonaro. Remédios como hidroxicloroquina, cloroquina, azitromicina e ivermectina vêm sendo alardeados pelo Planalto, mesmo sem eficácia comprovada, como aponta a Organização Mundial de Saúde.

A intenção dos senadores é saber se há alguma relação dos empresários com integrantes do governo, incluindo Bolsonaro. A quebra do sigilo inclui contas bancárias, telefônicas e uma devassa na vida digital de todos, o que inclui acesso a e-mails e troca de mensagens por aplicativos. A farmacêutica EMS informou à CPI que faturou R$ 142 milhões com medicamentos do “kit Covid” em 2020, valor oito vezes ao registrado em 2019. Apenas com a venda de ivermectina, faturou R$ 71,1 milhões. Antes, R$ 2,2 milhões

A CPI também tem uma prova importante de que o governo tem conhecimento há pelo meses 10 meses que os medicamentos recomendados pessoalmente por Bolsonaro para uso no chamado “tratamento precoce” não apenas são ineficazes, como devem ser descartados. Um telegrama de 24 de agosto de 2020, em poder da CPI, mostra que a Missão Permanente do Brasil junto à Organização das Nações Unidas informou que em uma conferência de imprensa da OMS a cientista-chefe do organismo falou sobre a falta de comprovação da eficácia do medicamento.

Na sexta-feira, 18, o relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), encaminhou ao presidente Omar Aziz (PSD-AM) uma lista com o nome de 14 pessoas que passaram da condição de testemunhas para a de investigados oficialmente pela comissão. Entre os suspeitos de crimes estão o atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, bem como os ex-ministros Eduardo Pazuello – general do Exército e titular da pasta que opera a política de saúde pública brasileira – e o diplomata Ernesto Araújo.

A lista de investigados inclui ainda dirigentes do Ministério da Saúde, como a médica Mayra Pinheiro, além do ex-secretário-executivo Élcio Franco, bem como do ex-secretário de Comunicação da Presidência Fábio Wajngarten e o ex-assessor Arthur Weintraub (veja a lista abaixo).

A inclusão de Bolsonaro na lista de investigados ainda é uma questão de tempo. Renan diz que a comissão ainda está analisando os limites da de atuação do colegiado para verificar se será possível oficialmente investigar o presidente da República. Se for constatado que há competência da CPI, ele defende que o Bolsonaro seja investigado para ser posteriormente responsabilizado. •

 

 

Na mira da CPI

A lista de investigados pela comissão inclui o atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e os ex-ministros Eduardo Pazuello e Ernesto Araújo, além do ex-secretário de Comunicação da Presidência da República Fábio Wajngarten. Eis a lista completa:

  • Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde
  • Élcio Franco, ex-secretário executivo do Ministério da Saúde
  • Fábio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação Social da Presidência
  • Mayra Pinheiro, secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde
  • Paolo Zanoto, virologista, suspeito de fazer parte do gabinete paralelo
  • Hélio Angotti, secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde
  • Francielle Fantinato, coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI)
  • Marcelo Queiroga, ministro da Saúde
  • Carlos Wizard, empresário
  • Arthur Weintraub, ex-assessor da presidência da República
  • Nise Yamaguchi, médica defensora da hidroxicloroquina
  • Marcellus Campelo, secretário de Saúde do Amazonas
  • Luciano Dias Azevedo, médico que redigiu proposta de mudança da bula da hidroxicloroquina
  • Ernesto Araújo, ex-ministro das Relações Exteriores