As gigantescas manifestações populares de sábado dão a medida do grau de insatisfação e degradação do governo. Mais de 750 mil brasileiros foram às ruas. Um verdadeiro contraste quando comparada ao fiasco das 6.661 motos que apoiaram Bolsonaro em 12 de junho, em São Paulo.

O “Fora Bolsonaro” que tomou conta das ruas é uma resposta do povo contra os piores índices de desigualdade da história, a explosão do desemprego e da fome, o desmonte das políticas públicas e o dramático genocídio decorrente do negacionismo de Bolsonaro. Enquanto o lucro das empresas de capital aberto subiu 245%, a renda do brasileiro encolheu 10% com inflação em alta e desemprego recorde.

Já são mais de 14,7 milhões brasileiros de desempregados, 6 milhões de desalentados e mais de 29 milhões que precisam sobreviver na informalidade. A inflação bateu recorde em maio – a maior em 25 anos – e atingiu 8,06% em 12 meses, com impacto maior sobre os mais pobres. Para os que têm renda familiar superior a R$ 16.509,66 a inflação foi de 6,3%. Aos mais pobres, com renda abaixo de R$1.650,50, foi de 8,9%.

O custo dos alimentos subiu 15,4%, promovendo fome generalizada nas periferias. O consumo de carne, por exemplo, caiu 14% em relação a 2019, sendo de 26,4 quilos por pessoa ao ano. É também a pior marca em 25 anos.

Ainda que se vislumbre no futuro próximo uma recuperação econômica global, especialmente pela retomada das economias dos EUA e da China, dos preços das commodities e da superação da pandemia em países que adotaram medidas de controle sanitário e política de vacinação em massa, no Brasil, caminhamos para uma recuperação tardia e desigual, em “K”, na qual há um aumento acelerado da desigualdade com os de cima ganhando mais e os debaixo cada vez menos. Uma recuperação centrada nas classes de alta renda, onde o consumo das famílias, que é o principal motor da economia, está fortemente pressionado pelo desemprego recorde e perda de renda, com alto endividamento e inadimplência.

Para piorar, a essa crise social soma-se a catástrofe sanitária. Bolsonaro segue contrariando as recomendações da ciência, promovendo aglomerações, criticando medidas de distanciamento social e negligenciando a vacinação. Por isso, atingimos a trágica marca de 500 mil mortos. Estudos recentes comprovam que 300 mil mortes poderiam ter sido evitadas, se o Brasil tivesse apostado na ciência em vez de investir no negacionismo e na criminosa teoria de imunidade coletiva adquirida naturalmente.

A luta que tomou conta das ruas no #19J, mesmo em uma situação de descontrole da pandemia e aceleração do contágio pelo vírus, é contra esse genocídio, pela vida e pela sobrevivência. Não há dúvidas que na medida em que a vacinação avançar, mais pessoas se sentirão seguras e serão mais massivos os atos pelo “Fora Bolsonaro”.

É nesse contexto que Lula ressurge de forma decisiva para a história. Com movimentos de grande competência, como foi sua recente passagem pelo Rio, Lula está contribuindo para impulsionar a luta, ampliando o diálogo, atraindo forças progressistas e encontrando o caminho para a construção de palanques e campanhas vencedoras nos estados, que exigem ampla coalisão que assegure a vitória e a governabilidade no futuro.

A liderança de Lula e o desprendimento de outros líderes são caminhos para a construção da unidade da esquerda e a derrota de Bolsonaro. Aos 75 anos, Lula talvez esteja diante do maior desafio de sua vida, que é reconstrução da unidade de um país humilhado, isolado internacionalmente, devastado e divido por Bolsonaro e pela extrema direita.