Estaleiros são “cemitérios de aço”
Os governos do PT recuperaram e ampliaram a capacidade produtiva da indústria naval no Brasil. A política de conteúdo local, as encomendas da Petrobras e o aumento da produção offshore fizeram com que o setor avançasse, em média, 19,5% ao ano entre 2003 e 2013. Esse crescimento resultou na construção de 605 embarcações até 2016 e na criação de mais de 82 mil empregos diretos e 400 mil indiretos, além da qualificação da mão de obra da cadeira produtiva de óleo e gás e do desenvolvimento da economia dos municípios onde os estaleiros foram instalados.
Infelizmente, as conquistas desse setor, viabilizadas pela expansão do investimento público e com intensa participação do investimento privado, têm sido revertidas. A Petrobras, principal demandante de navios e plataformas no país, descontinuou projetos, engavetou iniciativas e tem praticado uma política de baixo conteúdo local. Hoje, nove dos 10 FPSOs encomendados pela petrolífera brasileira estão sendo quase que inteiramente construídos em estaleiros asiáticos.
Atualmente, o cenário é de devastação e a falta de apoio governamental ameaça a sobrevivência dos estaleiros. Entre 2007 e 2015 os projetos contratados atingiram cerca de R$ 50 bilhões, mas a partir de 2016 esse valor caiu para cerca de R$ 1,5 bilhão, reduzindo para cerca de 15 mil o número de empregos diretos no setor. No momento não há nenhum contrato para a construção de sondas no Brasil. A indústria de construção naval offshore brasileira está praticamente parada.
A situação dos estaleiros no Brasil
Na região Sul, o Estaleiro Rio Grande (RS), que, no passado, construiu cascos dos FPSOs replicantes e recebeu encomendas de sondas de perfuração da Sete Brasil, opera somente como porta-contêiner. Em Santa Catarina, o Estaleiro Brasil Sul (antigo Oceana), que construiu embarcações para a Petrobrás pelo Prorefam (Programa de Renovação da Frota de Apoio Marítimo), hoje fabrica apenas um navio para a Marinha do Brasil. No mesmo estado, os estaleiros Detroit e Navship basicamente realizam reparos em embarcações de apoio construídos para operar para a estatal.
Na região Nordeste, o Enseada Indústria Naval, da Bahia, que fora inicialmente projetado para construir sondas e plataformas, virou terminal portuário. Em Pernambuco, o Vard, que já havia encerrado as atividades de uma unidade no Rio de Janeiro, está fechado, depois de entregar todos os navios encomendados pela Transpetro no âmbito de seu programa de modernização e expansão da frota (Promef). E o Atlântico Sul (EAS), que também construiu navios para a subsidiária da Petrobrás e estava entre os contratados pela Sete Brasil, faz reparos de navios de cabotagem e se prepara para entrar no mercado de descomissionamento offshore. Na região Sudeste, outro beneficiado pelo Prorefam, o Wilson Sons, no Guarujá (SP), também vive de reparos.
No Rio de Janeiro, o colapso é ainda mais intenso. Durante o processo de retomada do setor naval, nos governos Lula e Dilma, o estado tinha a maior capacidade de produção do segmento, possuía 12 estaleiros de médio e grande porte com uma capacidade de processamento da ordem de 500 mil/toneladas ano. O Rio de Janeiro chegou a ter 33 mil trabalhadores diretos em 2014, com o aprofundamento da crise o número de postos de trabalho na região caiu para menos de 7 mil.
O Brasfels, em Angra dos Reis, vinha mantendo a produção de sondas contratadas pela Sete Brasil com recursos próprios, mas esgotou suas condições de funcionamento e demitiu mais de 2 mil trabalhadores. O Eisa Petro 1, em Niterói, paralisou sua produção depois de não ganhar nenhum contrato com a Transpetro. Outros nove estaleiros estão sem atividade de construção naval ou apenas se dedicando a manutenções e reparos.
O Estaleiro Mauá deixa um rastro de mais de R$ 6 bilhões em obras paradas, em recuperação judicial, realiza serviços de reparo em pequenas embarcações, bombas de sucção removem água de fuselagens com rachaduras e enferrujadas, ele é a síntese de uma indústria naval que afunda produzindo verdadeiros “cemitérios de aço”.