Entrevista Juca Kfouri – “O candidato da conciliação é Lula”
Juca Kfouri diz nunca ter acreditado na possibilidade de que jogadores e comissão técnica da Seleção Brasileira de futebol pudessem se insurgir contra a “Cova América”. O experiente jornalista lembra que, para além do barulho gerado no presente, nada parece abalar o mundo do futebol. “Você não ouviu durante mais de um ano nenhum desses caras falando, fazendo uma crítica que seja à maneira como o governo brasileiro está agindo diante da pandemia”, lembra.
E avalia que a indignação presente no escrete canarinho é muito mais relacionado ao presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Rogério Caboclo, afastado depois de ser acusado de assédio sexual. Aliás, sobre a CBF, Juca diz que a instituição é um antro de corrupção e condena a realização da Copa América no Brasil.
O vivido jornalista contou à Focus Brasil que não compareceu aos protestos contra o governo de Jair Bolsonaro por causa da pandemia. E avisa que também não vai no dia 19. Mas não porque não acredita nas manifestações populares. “Tenho inveja dos que foram, terei inveja dos que irão”, diz.
Juca explica que segue as orientações do médico Drauzio Varella, que o aconselhou a não comparecer. Militante político há mais de cinco décadas, ele diz sentir um amargor com relação à realidade atual do Brasil, maior até do que no período da ditadura militar. A comparação – diz o veterano jornalista – não é exagerada.
“Embora a gente tenha uma liberdade para se expressar hoje, que não tínhamos em 1964, em 1968, em 1975, eu te diria que a constatação do retrocesso é uma coisa dolorosa”, lamenta. “Como essa, eu não vivi. A gente olhava para frente e via uma cultura pulsante, a Música Popular Brasileira reagindo, o teatro reagindo, a literatura reagindo, o jornalismo reagindo”. E, consternado, diz que o país com o qual sonhava para os filhos, provavelmente só será possível para as suas netas.
Para derrotar o retrocesso e a destruição que vem sendo promovida pelo “genocida”, Juca Kfouri aposta na capacidade conciliadora de Luiz Inácio Lula da Silva. Para ele, não há outro que tenha a capacidade de reconciliar o país.
“Lula até merecia descansar porque já fez sua parte”, afirma, antes de emendar: “É a hora do Lula de novo”. Ele diz esperar pela formação de uma frente ampla contra Bolsonaro. E adianta que todos teremos de perdoar os arrependidos que votaram em Bolsonaro sem serem bolsonaristas. Nem todos. Cita os nomes de alguns que não merecem perdão por terem apoiado o genocida lá atrás. A seguir, os principais trechos da entrevista:
Focus Brasil – O que você achou dessa quase insurgência dos jogadores e da comissão técnica da Seleção Brasileira? Ameaçaram, mas vão jogar. Como você vê essa situação?
Juca Kfouri – Para falar bem a verdade, e não digo isso com nenhum prazer, mas para alguma coisa ficar velho, vale. Eu, em nenhum momento, acreditei em qualquer hipótese de insurgência. E não era nem por ter informação privilegiada, era por mera imaginação. Te convido a compartilhar a minha imaginação. Você tem alguma dúvida de que o genocida que mora em Brasília terá ligado ou para o Neymar pai ou para o próprio Neymar filho lembrando dos problemas que a família tem com o fisco e que não é hora de fazer uma grosseria com um desejo do governo? Entendeu?
– Então, não te surpreendeu.
Em nenhum momento eu achei que eles teriam coragem de se insurgir contra um convite que, lembre-se, foi do governo brasileiro. O governo trouxe para o Brasil um problema que não era dele para se distinguir da Argentina, que estava mais do que preparada para receber a Copa América, que fez investimentos para receber competição e que, na hora H, por causa da pandemia, responsavelmente, achou que não era hora de receber nove delegações de países diferentes, com cepas diferentes e resolveu não fazer. E aí, o Brasil quer fazer. Por quê? Porque este governo quer aparentar o tempo todo uma situação de normalidade e não está nem aí para o fato das 500 mil mortes durante a Cova América. Entende? Então, em nenhum momento achei que eles se insurgiriam. Era muito mais uma questão de estarem se sentindo mal tratados pelo “Caboclo assediador” do que propriamente uma reação à Copa América ou à pandemia ou à saúde pública. Essa gente não está preocupada com isso, nunca esteve. Exceção feita ao Richarlison [jogador do Everton, time inglês], você não ouviu durante mais de um ano nenhum desses caras falando, fazendo uma crítica que seja à maneira como o governo brasileiro está agindo diante da pandemia. Você não viu nenhum deles nas campanhas de vacina. Uma coisa tão simples como essa – Vacine, já. Campanhas que a Rede Globo fez, eles não entraram. Não entraram porque essa questão da vacina é polêmica [ironicamente], entendeu? Então, em nenhum momento eu tive essa ilusão, em nenhum momento.
– Não foi na última Copa América que Bolsonaro desceu no campo para comemorar com os jogadores?
– Sim. Era exatamente esse grupo. Então, não há porque acreditar que eles viessem a fazer alguma coisa, que eles tivessem a coragem que tiveram os jogadores de basquete da NBA de condicionarem a realização das finais à manifestação deles a favor do “Vidas Negras Importam”. Estamos falando de outras cabeças, de outro nível de consciências. Estamos falando de jogadores de futebol que só pensam nos próprios umbigos, não estão nem aí para o entorno.
– Novamente, vemos a CBF com um mais um escândalo. Neste momento, não é de corrupção. Isso prejudica o futebol?
– Evidente que prejudica. Veja bem, há uma questão estrutural. Da mesma maneira que a gente trata o racismo estrutural no Brasil, o esporte brasileiro tem uma questão estrutural. Fruto de um processo não democrático que ainda vive sob a égide das capitanias hereditárias que são as federações estaduais que elegem os presidentes das confederações. Você acha que é mera coincidência que os três últimos presidentes da CBF foram banidos do futebol por corrupção? Ricardo Teixeira, José Maria Marin e Marco Polo Del Nero. Teixeira e Del Nero não podem sair do país porque se saírem, a Interpol pega. O Marin, a Interpol pegou. Cumpriu pena nos EUA. Foi libertado por uma generosidade da Justiça americana, exatamente, em função da pandemia. Ele tem quase 90 anos de idade. Estava lá encarcerado em condições, segundo dizem, de um presídio muito frio e tudo mais. João Havelange que é o capo dei capi morreu desgraçado, expulso do Comitê Olímpico Internacional e da presidência de honra da Fifa tendo que fazer acordo para não ser pego pela Justiça suíça.
E esse caboco, o “Caboclo assediador” era o braço direito do Marco Polo Del Nero. Chamava ou chama o Del Nero de “presi” que era o verdadeiro presidente da CBF. [Caboclo] Multiplicou, recomendo olharem o site “De olho nos ruralistas” [deolhonosruralistas.com.br], multiplicou o seu patrimônio a partir do momento em que pisou na CBF. Porque ali se recebem mil convites para ser sócio de mil empresas, entendeu? Não mudou nada. O que mudou é o como você disse. “Vínhamos” acostumados a escândalos de corrupção e, dessa vez, ainda não foi a corrupção, foi o assédio sexual.
– Não quer dizer que ela [a corrupção] não esteja lá, né?
– Não, de jeito nenhum. Pode estar mais bem disfarçada, mais cuidadosa. Porque nem a bebedeira é novidade. O seu Teixeira vivia embriagado, teve que tirar um rim de tanto que destilou.
– A realização da Copa América em si é um risco enorme. Mas há quem lembre que temos o Campeonato Brasileiro e a Libertadores. Você acha que são coisas comparáveis? Tem gente por aí dizendo que ninguém no futebol teve Covid. E o Rogério Ceni acabou de testar positivo.
– É, espera aí! Tem mais de 300 casos de Covid no futebol brasileiro. O primeiro jogo do Campeonato Brasileiro do ano passado não pôde ser realizado porque o Goiás estava com todo o time infectado. Então, vamos por partes. Primeiro, você está conversando com um cara que se insurgiu contra a volta precoce do futebol no ano passado, chamou o campeonato brasileiro do ano passado, o tempo todo de “Covidão 20”. Fiz um depoimento na Câmara dos Deputados a convite do ex-ministro [Alexandre] Padilha [deputado federal pelo PT de São Paulo] para tratar desse assunto numa comissão que tinha quatro médicos. E os quatro falaram, já tinha mais de 100 mil mortos no Brasil, nenhum deles fez referência aos mortos. Foi um negócio assim horroroso. A começar do “secretário menor” da CBF, Walter Feldman, que é médico. Depois teve o depoimento do diretor médico da CBF, Dr. [Jorge] Pagura, um cara envolvido em mil escândalos quando foi secretário de Turismo e Esporte aqui em São Paulo. Teve que renunciar ao posto porque descobriram que ele recebia de hospitais públicos sem dar plantão. Enfim, sempre fui contra.
Agora, há uma justificativa, que a mim não convence, mas que existe, de que se o futebol não voltasse os clubes brasileiros todos quebrariam. Um erro não justifica o outro. O fato de estarmos errando fazendo os campeonatos aqui não justifica que a gente receba mais um torneio, mas mais do que isso, um torneio que não era da nossa conta. Um torneio que não estava previsto para acontecer no Brasil. Um problema a mais que a gente traz de infraestrutura, deslocamentos, ambulâncias nos estádios, médicos e paramédicos. E em quatro cidades com ocupação quase máxima de leitos de atendimento da Covid. Desviando recursos que deveriam estar voltados ao atendimento dos doentes. Então, evidentemente, não há por que acrescentar aos campeonatos mais este. Lembrando que o Brasil recebeu a Copa América faz dois anos. A única coisa sensata a fazer era cancelar.
– Você acompanhou os protestos de 29 de maio? Acha que é o momento de ir para as ruas?
– Você me coloca diante de uma questão que para mim é muito complicada. Eu ouvi de um filho de 30 anos: “Pô, pai. Você quando tinha 20 estava em grupo clandestino correndo risco de morrer de bala ou sob tortura e agora não vai à manifestação por medo da Covid? O Bolsonaro é pior do que a Covid”. E eu entendo perfeitamente esse raciocínio. Eu confesso que morro de inveja dos que foram, eu queria muito ter ido. Mas eu tenho 71 anos e sou casado com uma mulher que tem um probleminha pulmonar que se pegar essa merda, não resiste. Eu não teria cara para olhar para o Dr. Drauzio [Varella] de quem sou amigo, que diz “não, não é hora, a gente está lutando com as armas que tem, se a gente for, corre o risco de morrer e não vai poder lutar mais”. Enfim, eu não condeno quem está indo, mas não é nem a preocupação de manter a coerência, de dizer “estou falando o tempo todo fique em casa, fique em casa e agora que é uma manifestação progressista aí eu posso ir”. Não é nem por isso. Porque são coisas diferentes. É obviamente diferente. Quem está saindo para a rua para apoiar o genocida está apoiando a morte. Os que saíram dia 29 e vão sair dia 19 estão lutando pela vida e isso faz uma diferença essencial. Agora, eu, particularmente, não vou e gostaria que os meus filhos não fossem. Não tenho poder de impedi-los de ir, não faço chantagem emocional. Apenas alerto que, em indo, ficarão no mínimo duas semanas sem que a gente possa se ver porque terão que cumprir quarentena. Mas é isso, é estar “entre a cruz e a caldeirinha”. Eu reitero e repito para encerrar este capítulo. Tenho inveja dos que foram, terei inveja dos que irão.
– Você mencionou que um dos seus filhos falou sobre o que você passou durante a ditadura militar e gostaria de saber a sua percepção sobre o momento que o país vive.
– Olha, não foi à toa que eu escrevi um livro cujo título é “Confesso que perdi”. Cinquenta anos atrás, eu tinha 20 anos de idade e sonhava com um Brasil que está agora cada vez mais longe, mas esteve mais perto do que sonhei no começo do século 21. Eu achei até que poderia fazer um livro “Confesso que empatei” ou “Confesso que estamos virando”. Mas, nós regredimos 50 anos. Na questão ambiental, nos direitos trabalhistas, no futebol. [Rindo] Tentaram fazer do Tite um João Saldanha, chamaram o Tite de comunista. Até nisso a gente voltou 50 anos. A única coincidência que há entre o Tite e o Saldanha é essa campanha de seis jogos seguidos vitoriosos nas Eliminatórias, que o Saldanha fez em 69 e que o Tite está fazendo agora. É a única coincidência. A única. De resto, não tem nada a ver um como outro.
Agora, quando houve o Golpe de 1964, eu tinha 14 anos. Eu não estava nem aí para o que estava acontecendo aos 14. Estava preocupado com o Corinthians que não era campeão desde 1954, já havia dez anos. E fui, evidentemente, a partir do golpe, em função das coisas que ouvia em casa, do meu pai, da minha mãe, fui me formando politicamente. Tive três primos que foram para a luta clandestina e que fizeram muito a minha cabeça. E aos 17 eu já estava militando na ALN [Ação Libertadora Nacional] e aos 18 dirigindo para o [Comandante] Toledo, o velho Joaquim Câmara Ferreira. Mas eu te diria o seguinte, como expectativa – embora tenha levado o tempo que levou, mais de 20 anos – era de que a gente iria, mais cedo ou mais tarde, derrotá-los. A expectativa e o que estamos vivendo hoje é de tentar evitar uma catástrofe. Porque se cogita um golpe. Cogita-se de um golpe das PMs e das milícias com as Forças Armadas imobilizadas. Ele [Bolsonaro] ensaia isso o tempo todo. Já não tentou dar o golpe porque o [Fabrício] Queiroz foi preso, o que o obrigou a recuar. Mas está numa nova escalada.
Veja, mais uma semelhança entre o futebol e a vida política. O Exército acoelhou-se diante da crise Pazuello da mesma forma que a CBF acoelhou-se diante do Neymar ao tapar a marca de um dos principais patrocinadores da CBF, que garante a mordomia dos cartolas. Não é curioso você constatar isso? Tanto o Pazuello quanto o Neymar ficaram impunes. Mas alguém dirá: “Não, mas no caso do Exército foi um recuo tático para impedir uma nova crise. Mas deste recuo tático o Bolsonaro se arrependerá adiante”. Bom, tomara que seja verdade. Eu diria que não tenho nenhum elemento concreto para acreditar que isto não seja um desejo, uma análise que embute um desejo. Então, em certo aspecto, diria que embora a gente tenha uma liberdade para se expressar hoje que não tínhamos em 1964, em 1968, em 1975, a constatação do retrocesso é uma coisa dolorosa e essa eu não tinha vivido. A gente olhava para frente e via uma cultura pulsante, uma Música Popular Brasileira reagindo, o teatro reagindo, a literatura reagindo, o jornalismo reagindo. O que a gente viu de 2013 para cá… A mídia cúmplice, achando que iria controlar o maluco. O parlamento, cúmplice. A Justiça, cúmplice.
Tivemos durante um período inaceitável, como herói nacional, um justiceiro da pior qualidade sob todos os aspectos. Até do ponto de vista linguístico. Um juiz que falava “cônje”, “houveram”… Quer dizer, um medíocre. Um medíocre. E virou herói nacional, era incensado pela mídia. Então, diria que eu também não sei te dizer se, claro, se isso tudo que eu estou dizendo não tem a ver com o fato de eu hoje ter 71 anos e então olhar para aquilo que eu queria para os meus filhos, hoje eu já quero para minhas netas. Acho que os meus filhos também não vão ver o Brasil com que eu sonhei. Quem sabe as minhas netas vejam. Então, isso dá um… não é um pessimismo, porque não vou parar de brigar… Mas dá um amargor. Hoje sou uma pessoa politicamente mais amargurada do que era quando a gente estava brigando contra a ditadura, sem dúvida nenhuma.
– Embora não possamos fazer muitas projeções, como você enxerga o cenário para 2022?
– Ao ver Fernando Henrique Cardoso dizendo que vota no Lula, eu diria demos os passos que precisávamos dar, até mais cedo do que eu imaginava porque achei que esse tipo de manifestação começaria ali por volta de março, abril de 2022. E está começando agora. Eu sou adepto da frente ampla até doer. Então, não vejo outro candidato que possa fazer a conciliação do país além de Luiz Inácio Lula da Silva. O conciliador. Não é o radical que o Estadão quer pintar. É o oposto do Bolsonaro. É o conciliador. E quem o conhece, sabe. Aliás, as críticas à esquerda que se possa fazer a ele são exatamente por ser excessivamente conciliador. É isso o que ele é. E é isso o que ele sempre foi. E com a capacidade de ser generoso, de não guardar rancor. Porque era para ter saído desses 500 e tantos dias que passou preso, cuspindo abelha e querendo vingança. E até saiu manso. Foi vítima de uma injustiça que não tem tamanho. Nunca vimos na história da política brasileira uma injustiça igual, mas não vejo outra alternativa.
Vou te dizer uma coisa, eu até acho que ele merecia descansar, que já fez a parte dele. Fostaria de pensar no Flávio Dino, no Fernando Haddad, no [Guilherme] Boulos, mas vão ter que esperar. São jovens. É de novo a hora do Lula. É o único cara que é capaz de conciliar este país. Vai ter ali 10%, 12% do gado bolsonarista querendo encher, mas com a capacidade que ele tem de falar com o povo, com a capacidade de governar com o povo, de pensar no excluído, no faminto… Ele é único, não tem outro.
– Você falou da frente ampla, como você a enxerga? Pode ser um pouco mais específico?
– Veja bem, também não queira de mim mais do que eu sou capaz. Ela é amplíssima assim, a demarcação para mim é do Doria e Moro para cá. Dória e Moro fiquem. Fiquem, arquem com suas responsabilidades. “Ah, mas eles estão arrependidos. Veja o Dória…” Não. Não. Essa turminha, [João] Doria, [Sérgio] Moro, Joice Hasselmann, não precisamos. Não precisamos. Até porque, acho que se esvaziaram por serem traidores. Eu tive um grandessíssimo amigo, que morreu semana passada, o Milton Coelho da Graça, que foi do Partido Comunista, do Partidão, onde eu militei. E o Miltinho dizia: “Juca, bem-vindos os oportunistas. Quando os oportunistas estão chegando perto da gente, é porque a gente está ganhando a guerra. Não recuse os oportunistas”. Eu confesso que aceito muitos oportunistas. Venham. Os arrependidos venham. Venham. Todo mundo tem o direito de se arrepender, de ter feito bobagem. Não vamos forçar essa gente que votou no Bolsonaro sem ser bolsonarista a não ter outra opção porque a gente não os perdoa. Não. Vamos perdoá-los. Mas com certa moderação. Entendeu? Há alguns que não precisam ir para o palanque. Vai lá e vota, mas não venha tão perto porque aí também é demais, aí também vai confundir muito a cabeça das pessoas. Para mim é isso. A demarcação é essa. A extrema-direita tem esse marco: Doria, Moro, essa gente…
– Como foi esse período da pandemia para você? Conseguiu se distrair com alguma coisa?
– Eu tenho uma neta de 16 anos. Luísa. Ela me liga três, quatro vezes por dia absolutamente indignada com as coisas que vê o genocida fazer ou que ela ouve na CPI. Está pelos tampos. Eu, às vezes, nem vi e sou informado por ela. E digo como resisti e tenho resistido à pandemia: primeiro, eu sou um cara caseiro. Então, não sair de casa não chega a ser um grande problema. Agora, eu gosto muito de ir ao cinema e nunca mais fui. Eu gosto muito de viajar e nunca mais viajei. Gosto de ir a restaurante, e nesse um ano três meses, fui a um restaurante, do hospital Albert Einstein, quando fui visitar minha irmã que estava internada. Fui na lanchonete do Einstein comer. Eu sou vítima de duas pandemias, a da Covid e a das lives. Vou sair daqui e vou entrar numa. Amanhã, tenho duas. Uma com o 247 e outra com a TVE da Bahia.
Fiquei vendo futebol, basquete… Estou lendo muito. Muito. E passo o dia com raiva desse genocida. É assim. Mas minha saúde mental, eu tenho preservado. O fato de poder, desde outubro do ano passado, sair para caminhar 50 minutos, tomar sol, tomar chuva, andar, me faz muito bem. Imagine que ao contrário da maioria, eu até dei uma emagrecida. Estou fazendo musculação, comprei pesos e para não ganhar massa muscular. Então, não vou sair mal da pandemia. Mas, é claro, eu não perdoo que a gente fique tanto tempo preso por incúria de um governo genocida, de um governo da pregação da necropolítica, de um governo da destruição, não da construção. É isso.