A América Latina tem em sua história um passado sombrio de longos períodos de ditaduras militares. Mas, após o processo de redemocratização, o continente experimentou, a partir de governos populares que colocaram em prática uma política de integração regional, um ciclo de grandes transformações, com avanços significativos no resgate de dívidas históricas, especialmente com os mais fragilizados socialmente.

Esse ciclo de paz social foi interrompido por novas modalidades de golpe, pelo lawfare e pela judicialização da política, com a já comprovada participação do Deep State dos Estados Unidos.  Exemplos dessa contaminação da democracia latino-americana foram os golpes contra Manuel Zelaya em Honduras, Fernando Lugo no Paraguai, Evo Morales na Bolívia e Dilma Rousseff no Brasil. Além disso, a perseguição judicial contra Lula, Rafael Correa e Cristina Kirchner.

Em resposta a essa nova onda neoliberal e à ascensão da extrema direita, novas mobilizações populares tomaram as ruas em diversos países da região e começaram a trazer um sopro de esperança para a América Latina, com resultados animadores. Em pouco tempo, se somaram aos governos Alberto Fernandez, na Argentina, e Andrés Manuel López Obrador, no México, as eleições de Pedro Castillo, no Peru, e de Luis Arce, na Bolívia. Também trazem esperança a realização da Assembleia Constituinte no Chile e a derrota de medidas neoliberais na Colômbia.

Entretanto, inspirada pela tentativa fracassada de Donald Trump de não reconhecer a vitória de Joe Biden, que resultou na invasão do Capitólio, a extrema direita tenta retomar as velhas estratégias golpistas na América Latina. O golpe contra Evo Morales teve início a partir de falsas denúncias da existência de fraudes no processo eleitoral boliviano. No Peru, a candidata derrotada recorre ao mesmo expediente golpista.

Processo simular vem acontecendo no Brasil.  Bolsonaro, com cada vez menos apoio popular e emparedado pelo descontrole da pandemia e pela crise social, flerta perigosamente com o golpismo. Agride a credibilidade das urnas eletrônicas e aposta na formação de milícias armadas, inclusive dentro das próprias instituições do Estado, como o conflito e a segmentação das Forças Armadas e das polícias.

Ao mesmo tempo, também agride cotidianamente as instituições democráticas, como o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional, e aciona um esquema de disparo de fake news em massa para destruir reputações e manter tensionada a democracia. Bolsonaro aposta no caos, no obscurantismo e no negacionismo para tentar se manter no poder, mesmo se derrotado nas urnas.

Mas, além da volta de Lula à vida nacional, o que traz esperança, centralidade e racionalidade ao processo político, o povo, mesmo com a pandemia, voltou às ruas. Foram mais de 420 mil pessoas na última manifestação e a expectativa é que os atos do próximo sábado, 19 de julho sejam ainda maiores.

Esse era o último elemento que faltava para a derrocada final de Bolsonaro e de todos os valores anticivilizatórios que ele representa. Não tenho dúvidas que, com o povo nas ruas, a partir da liderança de Lula e nos estados escalando uma seleção no campo progressista para disputar para valer e vencer as eleições, o Brasil seguirá o exemplo do sopro de esperança que se espalha pela América Latina e derrotará os retrocessos golpistas.

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