“Ele mostrou quando foi presidente que é mais democrático do que eu imaginava. Lula fez uma ponte. Nunca esqueceu sua origem e sempre governou respeitando as leis”, diz

 

A imprensa brasileira não viu. Ou não quis ver. Mas o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso concedeu uma entrevista ao jornal argentino Clarín, na edição de sábado, 5 de junho, rasgando elogios ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e criticando duramente o atual ocupante do Palácio do Planalto. E, mais uma vez, sinalizou que votará em Lula, caso a disputa no segundo turno gire entre o líder da extrema-direita e o petista.

“Não gostaria de ver o presidente Jair Bolsonaro reeleito. Eu nunca votei negativamente. Prefiro votar positivamente”, disse. “Lula mostrou quando foi presidente que é mais democrático do que eu imaginava. Lula fez uma ponte. Ele nunca esqueceu sua origem e sempre governou respeitando as leis. Lula representa esse sentimento médio do brasileiro que quer algo para acabar com a pobreza”.

Ao ser indagado por que os mercados estão assustados com o Lula agora, se ele governou com uma economia ortodoxa, reduziu o gasto público, gerou superávit fiscal de 5% e os bancos privados tiveram ganhos históricos, Fernando Henrique voltou a elogiar o petista. “Conheço o Lula há muitos anos. Quando o conheci, ele era o líder de um sindicato em São Bernardo [no estado de São Paulo]”, lembrou. “Lula nunca foi um homem ligado a partidos de esquerda. Mas não acho que ele seja da direita ou da esquerda. Eles vão apresentar como se fosse um vermelho, faz parte da luta política. Mas, não é verdade, nunca foi assim”.

O ex-presidente declarou que a situação brasileira é dramática com o aumento do número de vítimas da Covid, que já alcança quase 500 mil mortos. “O presidente não pode dizer que é uma gripe. É mais do que isso”, declarou. “Quem governa deve ter compostura, deve referir-se respeitosamente a essas questões”. Segundo o tucano, “na América Latina há uma negação da realidade por parte dos governos”.

Ambos assinaram nota cojunta, no sábado, em defesa do presidente da Argentina, em que criticaram corte tarifário no Mercosul, medida que tem o apoio do ministro da Economia, Paulo Guedes.