O recado das ruas
Em 29 de maio, milhares de pessoas saíram às ruas de todo o país para protestar por um conjunto bastante diverso de pautas, mas que pode ser sintetizado em três expressões: “Vacina Já”, “Auxílio emergencial de R$ 600” e “Fora Bolsonaro”.
Com a primeira, manifestantes fizeram referência à principal medida necessária à superação da crise sanitária que nos assola há mais de um ano. Com a segunda, buscaram uma forma de mitigar os efeitos de uma política econômica que triplicou o número de pobres no Brasil de agosto de 2020 a fevereiro de 2021.
Com a terceira, atribuem responsabilidade: o governo Bolsonaro é promotor da fome, da miséria e da morte de mais de 470 mil pessoas pela Covid-19, por razões que perpassam a política negacionista, a preconização de medidas ineficazes de combate ao vírus, o estímulo às aglomerações e a intencional morosidade na aquisição dos imunizantes.
O balanço das Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo aponta que mais de 420 mil pessoas participaram dos protestos, em 213 cidades do Brasil e outras 14 de diversos países.
Nas redes sociais, também houve muito engajamento. No Twitter, por exemplo, a hashtag #29MForaBolsonaro recebeu 1.828.048 postagens e 841 mil compartilhamentos. O amplo envolvimento nos atos, seja presencial ou virtualmente, mostra aquilo que as pesquisas de opinião já indicavam: a grande maioria do povo brasileiro rejeita as políticas sanitária, social e econômica de Bolsonaro e quer um novo projeto para o país.
Apesar da legítima preocupação com as aglomerações em um momento ainda difícil por que passa o país no controle da pandemia, é fundamental dar uma resposta nas ruas às mentiras propagadas pelo presidente. Aqueles que o rejeitam são ampla maioria, e estamos com organização e disposição para lutar contra suas ameaças à democracia, seu incitamento à violência social e institucional, e sua política genocida.
O contrate exposto pela comparação entre as imagens dos atos em apoio a Bolsonaro e as manifestações de 29M não deixa margem para dúvidas. São poucos os que seguem alinhados à sua política de morte. São milhares os que a buscam superar pela reafirmação de valores democráticos.
É preciso que as instituições ouçam o recado do povo. O Senado tem a responsabilidade de dar sequência às investigações da CPI da Covid-19, com indiciamento dos responsáveis pelas milhares de mortes no país. A Câmara deve dar resposta aos 120 pedidos de impeachment que aguardam análise de seu presidente.
Os meios de comunicação devem estar abertos ao contraditório, sobretudo no que se refere ao debate econômico, pois a escalada autoritária dos últimos anos tem como um de seus fundamentos o silenciamento das vozes de oposição. A omissão de algumas emissoras e grandes jornais na cobertura dos protestos de sábado não nos deixa muito otimistas em relação a mais essa lacuna em nossa democracia.
O espaço das ruas, no entanto, foi novamente ocupado. Bolsonaro ainda tenta reiterar sua desfaçatez, cada vez mais isolado e sem condições políticas de conduzir o país. Por isso, podemos seguramente dizer: o tempo de injustiça há de se tornar tempo de luta e esperança, e mais essa página triste de nossa história será virada em favor da vida.