General e ex-ministro da Saúde participou de ato político, subindo em palanque e discursando no Rio, o que é vedado por lei. Comando preferiu passar pano e deixou por isso mesmo. Risco é de anarquia, alerta o presidente da FPA, Aloizio Mercadante

 

O Comando do Exército aproveitou o feriadão de Corpus Chisrti, na quinta-feira, 3 de junho, para anunciar que não punirá o general da ativa Eduardo Pazuello pela sua participação nas manifestações promovidas por Jair Bolsonaro, no Rio de Janeiro, em 23 de maio. De acordo com nota oficial, “o comandante do Exército analisou e acolheu os argumentos apresentados por escrito e sustentados oralmente pelo referido oficial-general”. Pazuello cometeu pelo menos 8 infrações aos códigos militares, segundo especialistas.

Para o comandante do Exército, General Paulo Sérgio Oliveira, não restou caracterizada a prática de transgressão disciplinar por parte de Pazuello. “Em consequência, arquivou-se o procedimento administrativo que havia sido instaurado”, diz a nota. Além do “perdão”, Pazuello foi premiado na terça-feira, 1º de junho, com nomeação para a Secretaria de Assuntos Estratégicos, vinculada à Presidência da República.

As duas decisões apontam para a conciliação com a quebra da disciplina e da hierarquia militar e submissão do Exército ao presidente da República. “Não é nenhuma surpresa. Ele foi isso como militar. Bolsonaro foi expulso, convidado a se retirar do Exército com quatro anos de serviço. Ele sempre fez isso”, criticou o ex-ministro Aloizio Mercadante, presidente da Fundação Perseu Abramo, comentando a crise militar. Nos últimos meses, Bolsonaro passou a tratar as Forças Armadas como “meu Exército”.

“A função do Exército é a defesa da Nação. Um militar que, no limite, pode atirar e matar um ser humano, com respaldo das leis, tem regras muito rígidas e isso precisa ser respeitado”, advertiu Mercadante. “Se o general pode participar de um ato público, por que não o capitão, o tenente, o sargento, o soldado?”, questiona.

“O risco de que a anarquia se instaure dentro das Forças tornou-se visível com o General Pazuello subindo no carro de som de Bolsonaro, mas ele está aí desde 2018, quando o comandante do Exército sugeriu com seu famoso tuíte que o Supremo Tribunal Federal negasse o habeas corpus que impediria a prisão de Lula”, alertou o jornalista Elio Gaspari, em artigo publicado na Folha de S. Paulo, na terça-feira, 1º de junho.