Aloizio Mercadante *

 

Os países que adotaram políticas consistentes para o enfrentamento da Covid-19, como a testagem massiva, distanciamento social e a vacinação, já começam a retomar a economia e avanços na sociabilidade. Um novo ciclo de valorização das commodities está ocorrendo, que expressa as fortes perspectivas de crescimento mundial, liderado pelos Estados Unidos e China. Um clima de otimismo começa a emergir, que deve perdurar por algum tempo no cenário de pós-pandemia.

Entretanto, no Brasil, a realidade é outra. Em razão do completo descontrole da pandemia e da incapacidade de investimento do Estado, frutos de um desgoverno no gerenciamento da crise. Aqui as previsões mais otimistas preveem um crescimento de 3% do PIB para 2021, o que não recupera sequer a queda do ano passado.

Mas, a questão não é só que o Brasil irá perder e atrasar a oportunidade de retomar o crescimento, em um clima de otimismo e de recuperação da economia mundial. A face mais cruel da pandemia em nosso país, além dos mais de 430 mil mortos, é o aumento acelerado da desigualdade, os índices recordes de desemprego e a volta da fome, mais da metade da população brasileira sofre com algum grau de insegurança alimentar e pelo menos 15% convivem com a falta diária de comida na mesa.

O responsável por esse atoleiro tem nome e sobrenome: Jair Messias Bolsonaro. Mentor de um governo que despreza a vida, que negligenciou a testagem massiva, que postergou e sabotou a compra e produção de vacinas, que boicotou as medidas de isolamento social, que tentou desacreditar a medicina baseada em evidências científicas, que promoveu medicamentos ineficazes contra a Covid e que apostou na teoria da imunidade de rebanho, Bolsonaro gerou uma tragédia humanitária, social e econômica sem precedentes na história do Brasil. Bolsonaro derrete.

Tardiamente, o governo apresenta uma campanha publicitária em favor da vacinação e das medidas de controle da pandemia. Mas, na prática, as atitudes de Bolsonaro seguem sendo de boicote ao combate da pandemia, com a promoção de aglomerações, o não uso de máscaras e os ataques recorrentes aos países parceiros no fornecimento de insumos ou vacinas, como China e Rússia.

Por isso, a pesquisa Datafolha desta semana apontou que Bolsonaro chegou ao pior índice de aprovação e possui a maior rejeição entre todos os possíveis candidatos.  A pesquisa também revelou que a polarização entre Lula e Bolsonaro está dada e, até o momento, não há qualquer espaço para uma terceira via.

Essa polarização acontece porque Lula é a maior liderança popular da história deste país e em razão da força dos legados dos governos do PT. A memória de um país que valorizava a vida, que combinava crescimento e estabilidade, que distribuía renda, que tinha autoestima e altivez e respeito internacional ainda é viva na mente e nos corações do povo. Por isso, o reencontro definitivo entre Lula, o povo e esse Brasil de sonhos e esperança não tardará a chegar. Até lá, seguiremos lutando por vacina no braço e comida no prato. Mas o pêndulo da história voltou a se mover.

 

* Ex-ministro de Estado, é presidente da Fundação Perseu Abramo.