Fiador do governo de Jair Bolsonaro junto à direita liberal e ao mercado financeiro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, completa dois anos e cinco meses no cargo isolado e sem credibilidade. Ao longo de sua gestão, diminuiu de tamanho e está isolado. Nem o mercado mais acredita nele. Surpreendente porque, quando entrou no governo, foi saudado como superministro e apontado pelo presidente como o Posto Ipiranga. Agora, coleciona números negativos na economia e declarações embaraçosas, cheias de preconceito e que refletem o pensamento de um tosco. Isso o aproxima da chamada ala ideológica do governo e da própria visão negacionista de Bolsonaro.

O desgaste é público e reconhecido pelo próprio ministro. Em entrevista ao Globo no início da semana passada, Guedes afirmou que o apoio de Bolsonaro à agenda liberal, com a qual foi eleito, é cada vez menor. Segundo o ministro, o suporte, que no início era 100%, caiu para 65%.

Antes aclamado como o Chicago Boy, o ministro está cada vez pressionado e sem prestígio político. No final de abril, foi obrigado a realizar uma reformulação no Ministério da Economia, com a troca de quatro secretários e de uma assessora especial. Além disso, vem colecionando desafetos dentro e fora do governo. Como se não bastasse isso, o pouco preparo do ministro para os aspectos gerais da vida pública confirmam sua incapacidade.

O desastre da gestão de Paulo Guedes à frente da economia, refletido nos quase 15 milhões de desempregados, 19 milhões de famintos e 50 milhões de brasileiros no mercado informal de trabalho. Mas, isso não é tudo. Suas declarações e o desempenho da economia brasileira comprovam o seu fracasso à frente da pasta.

Para se defender das críticas a respeito da política econômica, na entrevista ao Globo, Guedes apresentou dados irreais da economia. Disse que pegou o Brasil com uma inflação alta e que o entregará com inflação mais baixa. Mentira. Também anunciou que pegou o país crescendo 1% e que o entregará crescendo 3%. Outra cascata. Por fim, jura que pegou o país com 12 milhões de desempregados e o entregará com 10 milhões. Outra fake news.

De acordo com a Pesquisa Nacional de Amostras por Domicílio (Pnad) Contínua do, o país atingiu a taxa de 14,2% de desocupados no trimestre encerrado em janeiro. É a maior alta da série histórica iniciada em 2012 para o período. Com a sua desastrosa política econômica, o Brasil começou 2021 com 14,2 milhões de desempregados e 5,9 milhões de desalentados – pessoas que gostariam de trabalhar, mas desistiram de procurar vaga.

Diferente do que anunciou o ministro, também conforme o IBGE, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil caiu 4,1% em 2020, com a atividade econômica registrando a maior contração desde o início da série histórica atual, iniciada em 1996.

Sobre a inflação, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou 2020 em 4,52%, acima do centro da meta para o ano, que era de 4%. Além disso, os preços dos alimentos acumularam aumento de 14% no ano, maior alta desde 2002 e, apenas entre janeiro e fevereiro de 2021, a alta acumulada no preço do diesel foi de 27% e no preço da gasolina de 34%.

Nesse cenário de crise, Guedes tem se notabilizado mais pelas declarações desastradas do que por propor alternativas e  apresentar resultados da economia. Desde o início do governo, o ministro passou a adotar o mesmo estilo do presidente, apelando para declarações preconceituosas e autoritárias.

Em reunião do Conselho de Saúde Complementar, no mês passado, responsabilizou o aumento da expectativa de vida do brasileiro e o avanço da medicina pela situação trágica do setor da saúde. E disparou: “Todo mundo quer viver 100 anos, 120, 130 (anos)… não há capacidade de investimento para que o Estado consiga acompanhar”.

Na mesma semana, o ministro da Economia classificou o FIES como um “desastre”. Segundo o Estadão, sem mostrar provas, Guedes disse que até quem “não tinha a menor capacidade” e “não sabia ler nem escrever” acessou a graduação por meio do Fies. Para exemplificar, afirmou que o filho do seu porteiro foi beneficiado mesmo tendo zerado a prova do vestibular.

Outra gafe de Guedes foi no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. Em seu discurso, o ministro da Economia afirmou que “o pior inimigo do meio ambiente é a pobreza”. O acinte chocou os comensais: “As pessoas destroem o meio ambiente porque precisam comer”.

Guedes também se indispôs com o presidente da França, Emmanuel Macron, ao apoiar um comentário de Bolsonaro sobre a primeira-dama francesa. E afirmou: “Ela é feia mesmo, não é nenhuma mentira”.

No ano passado, após o câmbio bater recordes, o ministro elogiou a valorização dólar e disse que quando a moeda estava a R$ 1,80, todos viajavam para o exterior. “Empregada doméstica indo para a Disney direto, uma festa danada”, disse o indecoroso economista.

Ele também ganhou notoriedade ao declarar, enquanto falava sobre a proposta de Bolsonaro de reforma administrativa, que funcionários públicos viraram “parasitas” diante de um Estado “hospedeiro”. E disparou: “O funcionalismo teve aumento 50% acima da inflação. Além disso, tem estabilidade na carreira e aposentadoria generosa. O hospedeiro está morrendo, o cara (servidor) virou um parasita. O dinheiro não chega no povo e ele (servidor) quer reajuste automático”.

Na famosa reunião ministerial do ano passado, em 22 de abril de 2020, Guedes voltou a protagonizar o papel de ogro da semana, ao mostrar desprezo pelas pequenas empresas e pelo Banco do Brasil. Aos colegas de governo, no Palácio do Planalto, Guedes surge dizendo: “Nós vamos ganhar dinheiro usando recursos públicos pra salvar grandes companhias. Agora, nós vamos perder dinheiro salvando empresas pequenininhas”. E finalizou: “Tem que vender essa porra logo”, em referência nada lisonjeira ao Banco do Brasil.

A série de barbaridades disparadas por Guedes não para por aí e envolvem falsas acusações de que a China criou a Covid-19. Também incorporou o ex-chefe Augusto Pinochet ao fazer uma enfática defesa do AI-5 – o ato mais duro da ditadura militar brasileira.

De posto Ipiranga à Bolsonaro da economia, em meio a tantas declarações estapafúrdias, até Guedes teve que reconhecer os avanços sociais dos governos do PT. Em um raro momento de lucidez afirmou, em audiência pública na Câmara dos Deputados: “O PT teve realmente a belíssima iniciativa de fazer um programa de transferência de renda importante”.

Ao lembrar-se do efeito social provocado pelo Bolsa Família, o Chigago boy mandou: “[O PT] Ganhou quatro eleições seguidas merecidamente porque fez a transferência de renda para os mais frágeis. Um bom programa, que envolvia poucos recursos e que tinha altíssimo impacto social, e que foi até inspiração para fazermos o dinheiro chegar na base”. Foi seu último lapso de sinceridade.