Editorial – Ele voltou!
Aloizio Mercadante *
A decisão do plenário do Supremo Tribunal Federal de manter a incompetência de todas as condenações contra o ex-presidente Lula, somada ao julgamento da 2ª Turma, que reconheceu a suspeição do ex-juiz Moro, devolvem ao povo brasileiro a maior liderança popular que o país já produziu. Mais que isso, com a decisão do pleno, há o resgate do Estado Democrático de Direito e Lula recupera seus diretos políticos, derrotando o arbítrio e a perseguição judicial, depois de cinco anos e de ter sido preso injustamente por 580 dias.
Sempre haverá o risco de que o estado autoritário e policial continue tentando inviabilizar uma possível candidatura de Lula. Mas, agora, em um novo ambiente político e com uma nova condição jurídica, isso é muito mais difícil para o arbítrio.
A volta de Lula devolve alguma racionalidade ao processo político e desperta os sonhos e a esperança do povo brasileiro. Lula é o símbolo maior de um Brasil que combinava estabilidade, crescimento econômico, altivez internacional e justiça social.
É em Lula que o povo reconhece as políticas públicas inovadoras que mudaram a vida da maioria da população para melhor, como a valorização do salário mínimo, Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, Luz para Todos, ProUni, Fundeb, Lei de Cotas, entre outras.
Por outro lado, Bolsonaro, a antítese de Lula, jogou o Brasil em um mata-burro ao criar uma falsa contradição entre a pandemia e a economia, que aprofunda a desigualdade, aumenta a pobreza e impede o nosso reencontro com o crescimento.
Não haverá retomada sem o enfrentamento da pandemia. E Bolsonaro continua sabotando as medidas recomendadas pela medicina e negligenciando a vacinação. Infelizmente, viramos o epicentro mundial da pandemia e morrem 4 vezes mais brasileiros pela Covid do que a média dos demais países.
Enquanto a economia mundial começa a se recuperar com vigor, a China cresce 18,3% no trimestre e o plano Biden rompe com o histórico neoliberal da economia norteamericana de 40 anos, anunciando investimentos de US$ 1,9 trilhão em infraestrutura, economia verde, políticas sociais, e uma reforma tributária que pretende arrecadar mais U$2,5 trilhões em 15 anos, a OCDE diz que o Brasil é a única grande economia que seguirá estagnada.
O fato é que os desmontes das políticas públicas patrocinadas pelo golpe e a tragédia do desgoverno Bolsonaro aprofundam a crise e o abismo social.
Neste cenário de trevas, Lula emerge como a luz no fim do túnel, como a grande esperança no imaginário popular. Na última pesquisa, não só lidera como tem a menor rejeição entre os candidatos. E ampliou a vantagem contra Bolsonaro: 52% a 34%.
Por isso, com o desafio de superar a maior crise de nossa história, Lula retorna mais sofrido e experiente, porém, com coração leve e sem rancores. Vai disputar e vencer mais uma eleição e subir novamente com o povo brasileiro a rampa do Palácio do Planalto.
Se, lá atrás, dissemos “deixa o homem trabalhar” e Lula fez o melhor governo da história do Brasil. Agora, é “deixa o povo votar” e ele fará de novo. O povo precisa se organizar para os novos tempos que virão a partir de 2023.
* Ex-ministro e presidente da Fundação Perseu Abramo.