Um grito na garganta: ditadura nunca mais!
Brasileiros celebram a democracia e liberdade, rechaçam nas redes sociais as comemorações ao Golpe de 1964. Todos juntos: ativistas, cientistas, artistas, políticos e entidades dos movimentos sociais fazem a defesa da democracia Os brasileiros se manifestaram desde cedo, na quarta-feira, 31, em favor da liberdade e da democracia. Em uníssono, ativistas, estudantes, artistas e líderes políticas ocuparam as redes sociais para deixar claro que não aceitam mais autoritarismo e rejeitam qualquer tentativa de se reescrever a história. O recado foi claro: o Golpe de 1964 deu início a uma ditadura militar violenta, injusta, assassina e desumana, que deve ser lembrada apenas para que jamais se repita. Hoje, é a democracia que deve ser celebrada. Apenas e unicamente a democracia. Por volta das 10h30, a hashtag #DitaduraNuncaMais dominava as redes sociais. No Twitter, foi o termo mais postado no país, com cerca de 100 mil menções. Na lista de assuntos mais comentados na plataforma, figuravam ainda as expressões “Foi golpe” e “Viva a democracia”. Juntas, essas três mensagens apareceram em número muito mais expressivo que as de teor antidemocrático, movidas pelo bolsonarismo e sua base de extremistas e radicais. Artistas, cientistas, jornalistas, líderes políticos e sociais, além de entidades da sociedade civil reverberaram o desejo por democracia no país. O neurocientista Miguel Nicolelis foi sucinto e preciso em sua resposta à nota emitida, na véspera do aniversário da derrubada de João Goulart pelo novo ministro da Defesa, General Walter Braga Neto, que defendeu a “celebração” do Golpe de 1964. Nicolelis foi enfático: “Ditadura não se celebra. Ditadura se condena. Abaixo a Ditadura, sempre!”, escreveu. A antropóloga Debora Diniz, como se completasse Nicolelis, ressaltou: “Não se reescreve a história de tortura do golpe militar. É ditadura nunca mais”. Senador Paulo Rocha: “Não se comemora tortura! Não se celebra morte! Não se festeja a tristeza de um povo!” Entidades da sociedade civil também rejeitaram as tentativas de escalada autoritária feitas por Jair Bolsonaro. O presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, disse que “não é porque o projeto de (auto) golpe já nasceu morto, rechaçado e com selo de ‘inconstitucional’, que se torna menos necessário reafirmar a constante vigilância dos democratas”. E lembrou: “A única mobilização nacional de que se deveria falar neste momento é pela compra de vacinas”. A presidenta nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), divulgou video conclamando a sociedade a permanecer atenta. “A nossa luta por democracia deve ser travada cotidianamente. Ditadura nunca mais. Contra a ditadura de ontem, contra a ditadura de hoje”, disse. “Bolsonaro e os bolsonaristas estão sempre numa escala autoritária, fazendo lembrança à ditadura, aos torturadores e defendendo esse modelo de regime para o Brasil. Ameaças com a Lei de Segurança Nacional, ameaça com Estado de Sítio. Nós não podemos permitir isso”. Outros líderes do PT, nascido no contexto da luta contra a ditadura, no começo dos anos 80, também se juntaram aos brasileiros nessa celebração da democracia. “Ditadura nunca mais!”, bradou o ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad. “Temos ódio à ditadura. Ódio e nojo”, afirmou o deputado Paulo Pimenta (PT-RS), repetindo o mantra lançado pelo ex-deputado federal Ulysses Guimarães, um dos mais importantes combatentes contra o arbítrio nos anos de chumbo. Essas palavras foram ditas pelo ex-presidente da Câmara dos Deputados na promulgação da Constituição da República, em 5 de outubro de 1988. “Não se comemora tortura! Não se celebra morte! Não se festeja a tristeza de um povo!”, lembrou o líder do PT no Senado, Paulo Rocha (PA). O líder da legenda na Câmara, deputado federal Bohn Gass (PT-RS) lembrou-se das vidas daqueles militantes mortos pelo regime militar ao longo de 21 anos. “São 434 mortos ou desaparecidos. E 4.841 representantes do povo, legitimamente eleitos, destituídos de seus cargos. Foram 20 mil pessoas submetidas a algum tipo de tortura. Milhares de famílias esfaceladas. Não há nada a comemorar! Lembrar, sim, mas para que nunca mais aconteça”, disse o parlamentar. •