Vladimir Palmeira
"Eu concluí que aquele movimento no Brasil não ia dar em nada se não houvesse uma preparação para a luta armada, para defender o governo legal. Eu era da ala mais radical, mas era um radical independente".[O impacto do golpe de 1964 sobre mim] Foi grande. Eu tinha feito vestibular para a Faculdade Nacional de Direito. O Caco (Centro Acadêmico Cândido de Oliveira) era o mais tradicional do país. No dia 31 de março ficamos em vigília. Em 1º de abril a polícia invadiu a sede, deu uns tiros, matou gente.
"Eu concluí que aquele movimento no Brasil não ia dar em nada se não houvesse uma preparação para a luta armada, para defender o governo legal. Eu era da ala mais radical, mas era um radical independente".[O impacto do golpe de 1964 sobre mim] Foi grande. Eu tinha feito vestibular para a Faculdade Nacional de Direito. O Caco (Centro Acadêmico Cândido de Oliveira) era o mais tradicional do país. No dia 31 de março ficamos em vigília. Em 1º de abril a polícia invadiu a sede, deu uns tiros, matou gente. Eu estava exatamente nas escadarias, na entrada, ao lado do Renée, filho do Apolônio de Carvalho, quando eles atacaram. […] Eu me identificava com o [Miguel] Arraes [então governador de Pernambuco], com a luta armada. Naquele momento, tinha de tudo no seu governo: trotskistas, gente da AP (Ação Popular), do Partidão. O Nordeste era um caldeirão. Eu concluí que aquele movimento no Brasil não ia dar em nada se não houvesse uma preparação para a luta armada, para defender o governo legal. Eu era da ala mais radical, mas era um radical independente.
[Cuba nunca foi uma referência para mim]. Eu acho que sou um caso à parte. O Brizola era. Eu cheguei a participar de uma reunião do Grupo dos Onze. Era uma palhaçada. Com um pouco de bom senso se via que aquilo não ia dar certo. […] Logo depois do golpe ficou difícil fazer movimento estudantil. Foram abertos inquéritos policiais militares, inclusive no Caco. O clima na escola era de terror absoluto. De forma que eu só estudava. Mas iniciei e participei de um grupo de resistência. Todo mundo estava perdido, o Partidão estava quebrado, a AP e a Polop [Política Operária] tinham sido quebradas parcialmente. Esse povo perdido se juntou para formar um grupo. Não tínhamos nenhuma identidade política mas resolvemos lutar contra a ditadura. Fazíamos panfletagens clandestinas na avenida Rio Branco de cima de prédios. Era um sucesso. O pessoal parava, corria para pegar o papel e a gente se sentia gratificado. Tornei-me um especialista nos edifícios do centro do Rio de Janeiro. […] Em 1965, as organizações voltaram a se recompor. E começaram as diferenças ideológicas no grupo, que acabou se dissolvendo. Nessa época o pessoal do movimento estudantil (ME) estava se reorganizando e me chamou para militar. Eu dizia "não milito em movimento pequeno-burguês". Minha idéia era de que estava fazendo revolução. Mas não me restou outro caminho senão começar a militar no ME. Em 1964, houve eleição para o Caco, a primeira eleição democrática no Brasil depois do golpe militar. Basta dizer que foi manchete do Última Hora. Nossa chapa era "Pelas Liberdades Democráticas", evidentemente sob a égide do Partidão. Ganhamos e 15 dias depois a polícia invadiu a faculdade.
Trechos extraídos de entrevista a Paulo de Tarso Venceslau e Ricardo de Azevedo na Revista Teoria e Debate nº 20 (1º trimestre de 1993). Clique aqui para ler a entrevista na íntegra.