VISIBILIDADE CONTRA O ÓDIO – 2000

Ítalo Cardoso

Skinheads, White Power, ou Carecas do ABC, não importam as denominações dos grupos neonazistas. Onde quer que atuem, são todos praticantes confessos do preconceito, difusores do ódio, pregadores do extermínio do semelhante que negam reconhecer. Seus alvos são as populações discriminadas, que se organizam para afirmar seus direitos. Seus métodos são a intimidação ou o assassinato puro e simples, cometido em nome da pureza da raça e do tipo de sociedade que defendem. Esta cultura da supremacia racial, que divide as pessoas entre superiores e inferiores, revela que esta ideologia é, acima de tudo, anti-humana.

Desde 1992 esses grupos vêm agindo em São Paulo, exercitando seu ódio contra homossexuais, negros, moradores de rua, migrantes, imigrantes e defensores dos direitos humanos. Desde então, invadiram um centro de lazer freqüentado por nordestinos; assassinaram homossexuais como o artista plástico Nilton Verdini, em 1996, num arrastão em bares, e o adestrador de cães Edson Néris, espancado até a morte em fevereiro deste ano; enviaram bombas a integrantes da Associação Parada do Orgulho Gay e da Anistia Internacional; e cartas ameaçadoras a membros de comissões parlamentares de direitos humanos, a uma jornalista, e ao secretário estadual da Segurança Pública.

Os neonazistas buscam publicidade e por meio dela conquistar novos adeptos. Em um país com tanto desemprego e falta de alternativas para a juventude, o campo é fértil para o crescimento de suas idéias. Eles são articulados e têm a simpatia de gente poderosa política e economicamente. Seria por demais ingênuo imaginar que suas ações são apenas uma busca alucinada de notoriedade de jovens que calçam coturnos e raspam a cabeça.

A sociedade civil tem respondido exemplarmente à ação desses grupos. A Anistia Internacional não interrompeu a coleta e divulgação mundo afora das denúncias contra as violações dos direitos humanos nas delegacias, presídios e na Febem. A Associação Parada do Orgulho Gay e demais entidades de gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros, que reuniram 120 mil pessoas na manifestação realizada em junho deste ano, trabalham para dobrar este número em 2001.

Em 14 de setembro, na Câmara Municipal de São Paulo, 75 entidades, ONGs e movimentos de direitos humanos realizaram ato de desagravo, solidariedade e reafirmação de seu compromisso com o combate a todas as formas de discriminação e preconceito, e em defesa dos direitos da pessoa. Na ocasião, foi criada uma comissão para acompanhar as investigações, decidindo- se também pela realização de uma grande manifestação pública. A cada ameaça, maior será a visibilidade da luta contra o ódio e o racismo.

A verdade é que a mobilização da sociedade está bem à frente do trabalho de investigação policial, que tem sido demasiadamente lento. Que esta pressão continue. Ela é a mais poderosa arma que dispomos contra a impunidade e o fortalecimento e a difusão da ideologia anti-humana dos netos e bisnetos de Hitler.

Ítalo Cardoso vereador do PT e presidente da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da Câmara Municipal de São Paulo.

Fonte: PT Notícias, nº 94, setembro/outubro de 2000, p. 03. Acervo: CSBH/FPA.

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