Flávio Jorge R. da Silva
Secretário Nacional de Combate ao Racismo
Esta frase expressa a indignação do padre Henri Conde diante de cerca de mil policiais lançando bombas de gás lacrimogêneo e arrombando as portas da igreja Saint Bemard, em Paris (França), para invadir o local onde estavam acampados os africanos sans-papiers (sem documentos). Os africanos reclamavam a regularização de suas vidas de imigrantes e exigiam o visto de permanência naquele país.
A polícia prendeu 220 africanos e o fato causou enorme polêmica entre as partes favoráveis e contrárias a essa medida de força do governo francês. Aconteceu num momento em que a implementação de políticas neoliberais, em várias partes do mundo, tem como consequência a ampliação do racismo, da exclusão e a marginalização das populações negras, vítimas dos níveis alarmantes de pobreza e miséria, principalmente nos países considerados como do Terceiro Mundo. São trabalhadores, em sua maioria jovens, que cruzam suas fronteiras em busca de comida e trabalho.
Essa corrida de famintos do mundo pobre em busca das migalhas do mundo rico faz ressurgir o velho nacionalismo europeu. Aí o racismo é um muro que se ergue em defesa do também velho binômio paz-prosperidade, incompatíveis com a desordem e a irracionalidade de um mundo de outras cores, línguas, religiões e culturas, em nome do qual o branco europeu explorou/explora, dominou/domina e até exterminou/extermina outros povos.
Os gritos dos manifestantes contrários à invasão da Saint Bemard – Franceses, imigrantes, solidariedade – colocam na ordem do dia o estreitamento de relações em busca da solidariedade internacional no combate ao racismo e aos projetos que ampliam a exclusão, a marginalização, a segregação e a violência, globalizando o ódio e a intolerância racial entre os habitantes do planeta Terra.
Fonte: PT Notícias, nº 14, setembro de 1996, p. 07. Acervo: CSBH/FPA.
Para visualizar o documento original, clique aqui.