Carlos Santana, Marcelo Dias
Manifesto ao Congresso do Partido dos Trabalhadores
A população afro-brasileira vive num estado de miséria e opressão, expressa nos baixos salários, no contingente de favelados e encarcerados, nas milhares de mulheres esterilizadas, no extermínio de crianças e adolescentes, na perda de nossos valores culturais e na exclusão da participação política.
Sustentáculo do sistema capitalista no Brasil, o racismo é um componente substancial na estrutura de dominação da classe trabalhadora, que foi esquecido na luta contra o capitalismo.
Sem dignidade e cidadania, o Povo Negro na Diáspora tem sofrido com essa política de segregação e repressão. Até hoje luta contra o racismo somente em suas organizações.
Raça e Classe são componentes indispensáveis para a leitura de nossa realidade, e sua transformação.
Até a década de 70, a esquerda brasileira compreendia o racismo como consequência da pobreza, fazendo no máximo menção à discriminação racial. A discussão de fundo se resumia na separação da luta de classes alegando que as diferenças básicas da transformação da sociedade desapareceriam num estalar de dedos, com a transformação ou com o fim do Estado Burguês.
As experiências socialistas, porém, mostraram que as formas de opressão e discriminação não desapareceram nessas sociedades, a exemplo de Cuba e atualmente nos movimentos anti-racistas na Europa.
Nos anos 80 o racismo começou a ser relacionado à questão de classe, ainda entendido como uma circunstância meramente ideológica, item dos estatutos partidários, mas sem nenhuma consequência política para o conjunto da sociedade.
Apesar de sua natureza de combatividade e luta, o Partido dos Trabalhadores não tem compreendido essa questão na sua relação intrínseca com a questão de classe. A sua debilidade está em não organizar a militância para essa luta, visando um processo de transformação social consequente e radical, apesar dos esforços de seus militantes negros, em todo o País buscam construir um partido que também seja um instrumento de luta contra o racismo.
Nós, negros do PT, entendemos que o nosso Partido deve cumprir um papel estratégico de dirigir e impulsionar a luta pelo socialismo, capaz de organizar as massas e servir de referência política para os trabalhadores e para o povo afro-brasileiro.
É preciso respaldar os esforços dos militantes negros e reafirmar o PT como um partido da população negra oprimida e explorada, construindo um projeto político a partir das suas instâncias, que supere a discriminação e o racismo.
Fonte: Boletim Nacional do PT, nº 60, dezembro de 1991, p. 17. Acervo: CSBH/FPA.