OS NEGROS E O I CONGRESSO: TEMOS QUE FAZER A NOSSA PARTE – 1991

Flávio Jorge Rodrigues da Silva

O terceiro número do Jornal do Congresso publica o resultado- parcial – do trabalho das comissões temáticas, constituídas pelo Diretório Nacional, referentes ao tema Reorganização Partidária.

Ao discutir a participação de setores discriminados no Partido dos Trabalhadores, no que diz respeito à questão racial negra, começa afirmando que “é incipiente o desenvolvimento político e a estruturação orgânica do trabalho voltado para a luta anti racista a nível partidário. Esta realidade é contraditória com o fato de que grande número de militantes do movimento negro organizado no país sejam petistas ou simpatizantes do PT e muitos atuantes em todos os anos de construção do partido”.

Essa afirmativa vai de encontro a uma parte do texto “A questão racial negra nos 11 anos do PT”, publicado no primeiro número de Cadernos do I Congresso – da Coordenação Política Geral do Congresso: “Entretanto, os impactos dessa militância – seja no cotidiano do partido, na composição dos organismos de direção, na própria formulação de seu projeto político para a sociedade brasileira – podem ser considerados precários nesses 11 anos de vida”.

A partir dessas afirmações é que consideramos acertada a decisão do Diretório Nacional de possibilitar que os encontros setoriais preparatórios ao I Congresso do PT- sindical, juventude, mulheres, negros, ecologistas, agrário, saúde, educação, portadores de deficiência, assuntos indígenas e transporte- moradia- associações de moradores- tenham direito de eleger delegados aos encontros estaduais e diretamente ao Congresso.

As direções partidárias, sempre criticadas – corretamente – pelos que militam em tomo da questão racial por não entenderem a importância desta luta na construção de um projeto político para as relações sociais no Brasil, já fizeram sua parte.

A realização dos encontros setoriais, além de possibilitar a presença da militância racial negra no I Congresso, tem um papel ainda maior. O de possibilitar, também, que essa militância dê sua contribuição para que nosso partido, num momento importante de sua vida, em que é referência da luta socialista – ainda existimos -, não só no Brasil, mas em todo mundo, entenda no seu conjunto que o racismo é um instrumento de dominação e exclusão. Que essa compreensão e sua incorporação nas decisões do Congresso adquiram um caráter transformador num país de grande população de origem negra, onde o elemento racial, somado à situação de violência e miséria, é responsável pelo grau de exploração, dominação e extermínio da classe trabalhadora e pobre.

Temos que fazer a nossa parte nos empenhando na realização de nossos encontros setoriais.

Flávio Jorge Rodrigues da Silva, coordenador da Sub-Secretaria Nacional de Negros do PT.

Fonte: Boletim Nacional do PT, nº 57-58, agosto/setembro de 1991, p. 12. Acervo: CSBH/FPA.

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