Luiz Inácio Lula da Silva
Porque é impossível falar do Carlito sem falar de Teresa. Era como se fossem uma pessoa só, um casal de dom quixotes dispostos a encarar todas as injustiças
Porque é impossível falar do Carlito sem falar de Teresa. Era como se fossem uma pessoa só, um casal de dom quixotes dispostos a encarar todas as injustiças
O Carlito de Teresa
Sempre que alguém queria se referir à mulher dele, chamavam-na de “Teresa de Carlito”.
Era como se ela não tivesse nem sobrenome.
Não se trata de machismo. Nos fundões do Brasil, como sabemos, é comum se usar apenas o prenome e o parentesco para identificar uma pessoa, independentemente do gênero _ “Zé de Lia” ou “Maria de Firmino”, por aí.
No caso dela, porém, com o passar dos anos e da convivência, foi ficando cada vez mais claro que deveria ser exatamente o contrário. O certo seria chamar o velho Carlito Maia, o único homem que conheci mais petista do que eu e o Zé Dirceu juntos, de “Carlito de Teresa”.
Poucas vezes na vida encontrei um casal em que a relação de amor de uma mulher por um homem – e vice-versa – fosse tão intensa, desinteressada, permanente.
Carlito pode ter sido tudo na vida, além do publicitário criativo, do polemista brilhante, do frasista inconfundível, do pai amoroso, do companheiro de todas as horas. Mas, nos últimos anos, foi, acima de tudo, o abnegado marido de Teresa – e vice-versa.
Os dois estavam sempre juntos nas boas brigas que compravam, sem escolher adversário, porque neles o amor e a indignação andavam sempre juntos, eram vitais.
Por que digo essas coisas? Porque é impossível falar do Carlito sem falar de Teresa. Era como se fossem uma pessoa só, um casal de dom quixotes dispostos a encarar todas as injustiças, todos os desafios, todas as armadilhas da vida que encontrassem no caminho do bem.
De Carlito já disseram que era um eterno menino que ficou grande sem ficar bobo, mas não consigo imaginá-lo com seu inseparável boné do MST sem Teresa a seu lado, sempre lhe dando força, alimentando-o de esperança.
Pena que ele se tenha ido antes da hora de ver o Brasil dar a grande virada da sua história. No momento em que estamos bem próximos de acabar com 500 anos de dominação dos donos do poder, sinto falta do sorriso juvenil do Carlito, os olhos miúdos brilhando, rindo-se em silêncio das fraquezas dos que se imaginam eternamente fortes.
Por isso, acho que chamá-lo de “Carlito de Teresa” é a melhor forma de lembrar este brasileiro que, apesar de tudo, nunca perdeu o orgulho de ser brasileiro. E petista, claro.