Sob a direção da Frente Popular espanhola, não faremos mais do que dar prosseguimento à nossa luta.

No relato de Apolonio foram esses argumentos, ouvidos de Otávio Malta (dirigente comunista), que o convenceram a ir lutar na Espanha:

«O mundo está diante da ameaça fascista e a Espanha é hoje o principal bastião contra esse perigo comum. Ajuda-la é, com toda a certeza, dever primordial do militante. Mais que uma tarefa honrosa, é uma espécie de privilégio que nos toca a nós, comunistas, resgatar a dívida de solidariedade para com outros povos. Cem anos atrás, já Garibaldi combatia pela República de Piratini, no Sul. Para o surgimento de nosso movimento operário, no início deste século, muito contribuíram o ardor e a experiência dos imigrantes europeus. E agora temos o exemplo de Olga Benário e Elise Saborowiski, entregues à sanha da Alemanha hitlerista; o de Victor Allan Baron, morto na sede da Polícia Central, e o de Arthur Ewert, que em heróica resistência à tortura imolou a própria lucidez. É bem verdade que Abreu e Lima – mais tarde portador de um socialismo religioso – lutou ao lado de Simon Bolívar como seu lugar-tenente. Nosso débito, porém, continua imenso.

E há outros motivos para combater na Espanha republicana – aí o povo ergue bandeiras semelhantes, se não idênticas às da ANL. Sob a direção da Frente Popular espanhola, não faremos mais do que dar prosseguimento à nossa luta. O mesmo combate, só que em terras distantes”.

Apolonio comenta:

Ouço-o em emocionado silêncio e de maneira alguma me soam estranhos os argumentos e sugestões – lembram-me os relatos sobre Candoca e Deusdedit que me povoaram a infância. É como um retorno aos serões de família.

Aceito o convite. A luta heróica do povo espanhol canaliza-me, de chofre, todo o entusiasmo acumulado no período da prisão. Logo estarei a serviço de uma causa revolucionária, que agora está vivendo momentos difíceis. Oficial de artilharia e comunista, sou indispensável – não lhe posso faltar.

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