Flávio Jorge R. da Silva
Secretário Nacional de Combate ao Racismo
Celso Pitta reconhece, na Folha de São Paulo do dia 28, a falta de representatividade da comunidade negra em postos e organismos de poder e se dispõe, se eleito, a prestigiar este segmento de São Paulo. Porém, repete sua história de vida, destacando o bom e enraizado relacionamento com a família Maluf, que possibilitou sua ascensão econômica e, agora, política.
Este candidato faz parte de um segmento negro urbano, que o sociólogo Clóvis Moura classifica como classe média negra letrada, composta de profissionais liberais, pequenos empresários, funcionários públicos e outros de igual nível. O comportamento desse negro letrado é permeado por valores do universo branco, como educação, etiqueta e até mesmo na política: “se ajustam aos padrões do sistema e agem da mesma forma que os grupos ou organizações dos brancos, no sentido de obterem resultados práticos individuais ou grupais…” Reforçam, com isso, o mito da democracia racial, que procura ocultar o racismo, as desvantagens e as desigualdades de oportunidades e o tratamento a que está submetida a maioria da população negra do País.
Pitta é conseqüência da incorporação, física e ideológica, do negro a um projeto político que começa a ganhar dimensão nacional. Isso não é novidade no pensamento conservador brasileiro, mas a possibilidade de participação de um negro no centro do poder político e econômico do País, São Paulo, significa um novo tratamento à questão racial e um refinamento do racismo brasileiro.
E a partir dessa compreensão que não podemos votar em Celso Pitta. Seu êxito e o do malufismo significa a inclusão de alguns e a exclusão de muitos, que, mais que pobres e marginalizados, poderão ser milhões de muitos pobres e miseráveis, dispensáveis e perigosos – quase todos negros!
Fonte: PT Notícias, nº 16, setembro de 1996, p. 07. Acervo: CSBH/FPA.
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