Discurso em agradecimento à homenagem prestada pelos alunos do curso de jornalismo da PUC/SP em 1995
O que espero dos meus agora colegas? O exercício da profissão com domínio técnico, sentido ético, consciência política e a disposição de assumir o papel de sujeito histórico.
O que espero dos meus agora colegas? O exercício da profissão com domínio técnico, sentido ético, consciência política e a disposição de assumir o papel de sujeito histórico.
Discurso em agradecimento à homenagem prestada pelos alunos do curso de jornalismo da PUC/SP em 1995
Por Perseu Abramo
Senhores professores, senhores e senhoras, alunos e alunas.
Agradeço essa homenagem, que certamente se deve mais à generosidade dos proponentes do que propriamente aos meus méritos.
Não quero fazer um discurso, mas, como professor, não devo deixar de dizer algumas palavras aos que hoje se formam como jornalistas profissionais.
Num mundo em crise e em transição, o jornalismo é uma profissão que também, como tantas outras, está em crise e em transição.
O maior desafio desta nossa profissão nos dias de hoje é a distância entre a técnica e a ética. Cada vez mais, avançam as novas tecnologias, a informática, a telemática, a transmissão por satélites, ondas hertzianas, fibras óticas, “estradas eletrônicas”, infovias, telefone celular, fax, computador, moden, a Internet e outras redes. E, cada vez mais, o poder político e econômico dos grandes impérios empresariais e multinacionais da comunicação se concentra em um número cada vez menor de poucas mãos, enquanto a imensa maioria da população continua no seu papel de mera leitora, ouvinte ou telespectadora passiva dessas maravilhas luminosas, ruidosas e brilhantes.
Por isso, peço aos meus colegas jornalistas que hoje se formam, licença para alguns lembretes. Não se deixem deslumbrar pelas técnicas e pelas novas tecnologias. Elas de nada valem, se não forem utilizadas com profundo sentido ético e com a visão clara de que a imensa maioria da sociedade, em todos os países, ainda luta para libertar-se da exploração, da opressão, da desigualdade e da injustiça.
Se a sociedade não lutar, também, pela democratização da comunicação, o aumento do poder tecnológico nas mãos de uma elite dominante, sem participação do conjunto social, não vai significar mais democracia. Ao contrário: vai significar mais dominação, mais exploração, mais opressão, mais desigualdade, mais injustiça. Portanto, menos democracia. É isso que eu chamo de o Paradoxo da Comunicação.
A luta pela democratização da comunicação, para ser vitoriosa, tem de ser de toda a sociedade. Mas os jornalistas têm um papel de alta responsabilidade nessa luta, porque eles sabem perfeitamente como, nesta paradoxal profissão, é necessário e possível, sim, procurar a verdade, mas muitas vezes o que se encontra é o erro, a distorção e a manipulação.
O que espero dos meus agora colegas? O exercício da profissão com domínio técnico, sentido ético, consciência política e a disposição de assumir o papel de sujeito histórico.
Muito obrigado.