Neste ano de 2022 completa-se 200 anos de independência brasileira. O marco oficial dessa efeméride da história brasileira, fixada em 07 de setembro, coloca em evidência a relação entre história e política, entre interpretações sobre o passado e projetos que desejamos e devemos lutar para nosso futuro. O bicentenário da independência nos impõe refletir sobre os projetos de nação que foram então propostos por grupos privilegiados, e tantos outros que foram silenciados, e os percursos de resistência que seguem até os dias atuais por um Brasil verdadeiramente livre e justo para todos.

O momento instiga o debate sobre o passado e o presente da independência do Brasil na perspectiva dos trabalhadores. Ao contrário de uma história ufanista, apaziguada e homogênea, a tradição de luta da classe trabalhadora pela sua sobrevivência e organização política, e a ação e repressão do Estado nacional em relação a esta tradição, demarcam uma trajetória de conflitos permanentes entre os grupos subalternos e as elites nacionais, compondo um contexto de exploração, tanto dos homens e mulheres, como também dos recursos naturais e do território.

A narrativa predominante, marcada pelo discurso oficioso, faz parecer que todos os grandes processos políticos ocorreram pela ação das elites, dos homens brancos e ricos que definem de cima para baixo os rumos políticos do país, colocando-se como os grandes protagonistas da história, realizadores de benesses no âmbito nacional. O processo de independência brasileira, que completa seus duzentos anos em 07 de setembro de 2022, é mais um desses acontecimentos. O discurso oficial apresenta a efeméride como um marco dos brasileiros por liberdade, que trouxe ao país ares de libertação, autonomia, soberania para todos. Contestamos essa narrativa por entender que esse processo histórico, ao contrário de libertador, continuou relegando aos grupos considerados subalternos a margem da sociedade brasileira. A independência do Brasil ocorreu à revelia da abolição, e não encerrou o horrendo regime escravista que ainda submetia homens e mulheres negros à violência, exploração e desumanização. Mulheres, trabalhadores e a população pobre ficaram de fora do processo de independência, que se mostra, portanto, como uma pactuação entre as elites brasileiras do período, uma vez que continuou por perpetuar as desigualdades sociais que atravessam a história até os dias atuais.

Por isso a pertinência desse ciclo de atividades em torno do bicentenário da independência que ora apresentamos. O objetivo é que, por meio dessa jornada, possamos mostrar como as narrativas predominantes, ao mesmo tempo que forja uma suposta harmonia por meio do discurso de libertação nacional, também oculta as experiências e a tradição de lutas do povo por liberdade, autonomia, justiça e cidadania, valorizando mitos sobre a suposta passividade do povo brasileiro, a democracia racial, entre outras construções ideológicas apaziguadoras dos conflitos intrínsecos à sociedade brasileira.

Ao contrário do que se apresenta, nossa história é marcada por luta dos povos e grupos subalternos por sobrevivência, justiça, liberdade e organização política, contra a opressão e coerção do Estado brasileiro, que historicamente tem valorizado ditadores, escravistas, racistas e genocidas, perpetuando a desigualdade e a diferença entre o povo. É nessa esteira propomos o Bicentenário 1822 – 2022: Duzentos anos de luta! As atividades foram divididas esferas de ações abaixo descritas.

1) Ciclo de debates online;

05/02/2022 – 200 anos depois, a luta do Brasil pela soberania nacional, pela integração latino-americana e por uma nova ordem mundial
Conceição Evaristo, Dilma Rousseff e Sônia Guajajara.
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19/02/2022 – Independência e escravidão: a formação de um estado nacional escravista e suas permanências no Brasil contemporâneo
Wilson Mattos (Uneb), Matilde Ribeiro (Unilab), com mediação de Carol Dartora.
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05/03/2022 – A participação das mulheres nas lutas pela independência e construção da nação
Heloisa Starling, Eleonora Minecucci, e mediação de Carol Dartora
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22/03/2022 – 100 anos do Partido Comunista
Adalberto Monteiro, Dainis Karepovs e Iole Ilíada
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09/04/2022 – Abril Vermelho: a formação do território nacional e os projetos em disputa, povos tradicionais, luta pela terra e ocupação do território
Jerry Matalawê – Pataxó, Maria Regina Celestino de Almeida, Nilson Santos e Rosa Negra
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2) Seminários regionais em parceria com as universidades;

Brasil 200 anos – para onde vamos Curso de extensão universitária que aconteceu nos meses de maio e abril de 2022 no Auditório Milton Santos, no prédio de História/Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. O curso foi promovido pelo Centro de Apoio à Pesquisa Histórica Sérgio Buarque de Holanda, do Departamento de História da FFLCH/USP, e conta com apoio do Programa de Pós-Graduação de História Econômica da USP, Programa de pós-graduação em economia política mundial da UFABC, Programa de Pó-graduação em História Social da USP e da Fundação Perseu Abramo.
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Duzentos anos de Brasil e a Amazônia: para onde vamos? – Seminário realizado no Auditório Rio Solimões do Instituto de Filosofia, Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal do Amazonas (IFCHS-UFAM) nos dias 18 e 19 de julho de 2022. A realização foi da Fundação Perseu Abramo, com apoio de UFAM, UEA, UNIR, Proex-UFAC, Anpuh-RO, Anpuh-AC e Portal da Independência.
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Duzentos anos de lutas e resistência no Brasil e no Maranhão – Seminário realizado nos dias 25 e 26 de julho de 2022 no Auditório do Mário Meirelles – Centro de Ciências Humanas (CCH) – UFMA – Campus do Bacanga – São Luís/MA. O evento foi realizado pela Fundação Perseu Abramo e teve apoio de Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Universidade Estadual do Maranhão (Uema), Associação Nacional de História do Maranhão (ANPUH-MA), Departamentos de História e Sociologia da Ufma, Departamentos de História e Sociologia Uema-SUL, Departamentos de História e Sociologia do Instituto Federal do Maranhão (Ifma), Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras do Estado do Maranhão (Fetaema), Movimento  dos Trabalhadores Sem Terra (MST).
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3) Festival popular e lançamento do Manifesto.

Também disponibilizamos para as companheiras e companheiros, como forma de recordar essa grande luta, parte do processo de construção e da experiência política do Partido dos Trabalhadores e também das lutas populares que atravessam a história do país, o calendário do ano de 2022 com a temática que marca a disputa de narrativas pelo bicentenário da independência: “200 anos depois, na luta por um Brasil livre”. Clique aqui para fazer o download do arquivo.

Selecionamos imagens de nosso acervo histórico, rememorando cartazes e fotografias para mostrar um pouco dessa história. Em nosso site também podem ser consultadas cerca de 40 mil imagens, de maneira gratuita, na base de dados disponível em: acervo.fpabramo.org.br.