Maio Baiano
Por Marcelino Galo
Em maio de 2001, a rebeldia juvenil, estudantes, trabalhadores das diversas organizações da esquerda baiana e partidos políticos foram às ruas de Salvador contra os desmandos do senador Antônio Carlos Magalhães que, à época na condição de presidente do Senado, havia violado o sigilo do painel eletrônico do Senado, revelando os votos dos senadores no processo de cassação do também senador Luiz Estevão.
Convocada pelos movimentos estudantis, a primeira manifestação ocorreu no dia 10 de maio. Os estudantes ocuparam todo o centro de Salvador e partiram em direção ao bairro da Graça, onde residia o então senador ACM. Na altura da Casa D’Itália, a Polícia Militar da Bahia reprimiu violentamente a passeata e impedindo que chegasse ao destino.
O segundo ato, ainda maior, aconteceu em 16 de maio. A estratégia elaborada era seguir a passeata pelo interior do campus da UFBA, concentrando a manifestação no Vale do Canela, na Faculdade de Direito, em razão da jurisdição federal, acreditava-se que a polícia baiana não entraria no espaço, mas não foi o que ocorreu.
Ao chegarem ao viaduto do Canela, os estudantes foram surpreendidos com a presença das forças policiais que já se encontravam no entorno da Faculdade de Direito. A força policial era composta por centenas de homens da Polícia Militar da Bahia, incluindo a Tropa de Choque e a cavalaria. Após horas de espera por algum acordo, a Polícia Militar ofereceu aos líderes do movimento a opção de contornarem o bloqueio e se dirigirem ao Vale do Canela, descendo o viaduto.
Foi justamente a partir deste momento que veio a ordem do governo carlista no sentido de agir com violência e reprimir os estudantes. Atendendo às determinações do presidente do Senado, o então governador César Borges, por intermédio da Secretária de Segurança Pública da época, a delegada de polícia Kátia Alves, foi utilizada a força policial e toda a violência contra os manifestantes incluindo além dos estudantes, professores e trabalhadores.
A Polícia Militar da Bahia, cumprindo determinação do governo carlista, invadiu as dependências da Faculdade de Direito, da Faculdade de Administração, da Faculdade de Educação e de outras unidades da Universidade Federal da Bahia, agredindo todos os presentes com todo o aparato repressivo da polícia baiana, incluindo bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha.
O confronto sangrento durou mais de uma hora, e tem-se conhecimento de que ao menos 50 pessoas saíram feridas, fazendo do espaço do conhecimento e do desenvolvimento do saber, uma verdadeira praça de guerra.
As imagens da repressão extremamente violenta praticada pela Polícia Militar da Bahia foram manchete em todos os veículos de comunicação do país e provocaram uma terceira manifestação ainda maior que as duas anteriores.
Alguns dias depois, no dia 30 de maio de 2001, o senador Antônio Carlos Magalhães ocupou a tribuna do Senado e anunciou a sua renúncia ao cargo, para evitar uma possível cassação e a consequente perda de seus direitos políticos.
As manifestações ficaram marcadas para sempre na história da Bahia a partir deste conjunto de atos conhecidos como “Maio Baiano”. Justamente no sentido de reforçar a ideia de que é preciso lembrar destes episódios para que jamais esqueçamos e para que nunca mais o despotismo possa reger as ações praticadas na Bahia, pois com tiranos não combinam brasileiros corações.
Assim, propomos um Projeto de Lei na Assembleia Legislativa da Bahia, que institui o dia 16 de maio como o Dia Estadual de Luta contra a Repressão na Bahia, como uma forma de dar um sentido para essa data no calendário oficial do Estado. E a partir disso propormos a reflexão sobre a nossa história e luta para que atos como esse nunca mais possa se repetir.
Marcelino Galo é deputado estadual (PT-BA), coordenador da Frente Parlamentar Ambientalista da Bahia, vice-presidente da Comissão de Meio Ambiente da Alba e presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Alba.