Violência no Brasil – desafio das periferias
Apresentação
É com imensa satisfação que apresentamos ao público o livro Violência no Brasil: desafio das periferias. Acreditamos ser um marco no debate atual sobre o tema. O livro reúne temas, bem como autores e autoras incontornáveis para compreender o momento em que o país vive, associando leituras estruturantes às preocupações com as agendas emancipatórias contemporâneas.
Sempre foi este o propósito da Fundação Perseu Abramo (FPA) que, desde 2017, organiza o Projeto Reconexão Periferias. Organizado em três áreas temáticas: Cultura, Trabalho e Violência, o projeto tem mantido uma agenda de pesquisas, articulação e publicações. Todas estas áreas estão conectadas entre si, com as pesquisas produzindo publicações; as pessoas mobilizadas pela nossa rede de articulação, sendo partícipes das pesquisas e publicações. Por outro lado, estamos sempre ampliando nossas parcerias, com pessoas e novas instituições, organizações e indivíduos, e tudo isso se reflete nesta obra.
Desde a criação do Projeto, estivemos dedicados a nos organizar, estudar e incidir sobre questões disruptivas no interior do campo democrático, enfrentando temas caros aos movimentos sociais e às periferias organizadas, mas que nem sempre encontram espaços de debate no interior do campo da esquerda, do campo democrático popular ou, como se diz hoje em dia, do campo progressista. É assim com as questões ligadas à violência, justiça, instituições de repressão, crime, direitos humanos e segurança pública. A escolha pela abordagem politizada destas questões é uma aposta no diálogo com os atores políticos deste campo político ideológico, no intento de ampliar e sofisticar suas proposições políticas, conectando-as com princípios e anseios populares e democráticos.
A leitura deste livro encontrará temas inovadores do ponto de vista da produção acadêmica, mas muito antigos enquanto problemas sociais. Isso não significa que as reflexões estão mais incompletas do que os temas que possuem tradição na agenda de pesquisa brasileira. Se a estrutura racial do país sempre produziu violência em variadas formas de expressão, apenas recentemente é que a violência foi amplamente publicizada e politizada como um problema racial. A despeito dos esforços dos movimentos negros organizarem uma agenda constante de reação à violência, especialmente a policial, estes esforços nem sempre conquistaram aliados não negros.
Após assassinatos que se tornaram emblemáticos, como o de Marielle Franco, no Rio de Janeiro, e de George Floyd, em Minneapolis (EUA), com a consequente reação internacional dos movimentos negros e a vocalização de intelectuais negros é que a violência passou a ser debatida amplamente no Brasil como um resultado produzido pelo racismo na sociedade brasileira. O significado amplo disso é que os demais temas ligados à agenda de debate raciais, tais como preconceito, discriminação, classe, desigualdade, colonialismo, segregação, entre outros, devem estar conectados com a compreensão da violência.
É assim que a noção de periferia emerge com uma potente síntese de contradições experienciadas no Brasil. Entendida como a possibilidade de representação plural, e não apenas grandes conglomerados urbanos, a ideia de periferia pode expressar um espaço social de exclusão, territorializado ou não, mas também de potência. E é justamente neste sentido de potência que o presente livro se apresenta, trazendo autores deste universo periférico para pensar, questionar e propor novos caminhos para a superação da violência no Brasil. Boa leitura!
Paulo César Ramos
Artur Henrique dos Santos